Bosch lança motor a hidrogênio e Apple atrasa seu ‘iCar’
E temas que sempre “balançam” o universo automotivo e dois deles, o lançamento do ‘iCar’ da Apple e o surgimento de um revolucionário motor capaz de dar sobrevida à combustão interna, como alternativa aos EVs, ganharam novos capítulos nesta semana.
Menos de um mês após o anúncio oficial da criação da Bosch Mobility, unidade independente do megafornecedor focada em soluções completas de mobilidade, o grupo alemão confirmou para este ano a apresentação de um novo propulsor verde – a combustão interna e movido a hidrogênio – praticamente livre de emissões.
A notícia deve ser comemorada por muita gente se opõem à virada da eletromobilidade, ao passo que os “applemaníacos” levam um verdadeiro banho de água fria com o adiamento do ‘iCar’, como é apelidado EV com que a marca da maçã vai entrar segmento automotivo, anteriormente agendado para 2028 – aqui, vale lembrar que a Xiaomi inicia as vendas de seu supersedã, o SU7, no segundo semestre.
Pior, a Apple também confirmou que seu futuro EV não será tão inteligente quanto seus iPhones e da previsão inicial de condução totalmente autônoma, de Nível 5, o modelo contará com Nível 2+, como os Tesla atuais.
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Ruim para uns, bons para outros, principalmente para quem não abre mão do fogão a lenha, das locomotivas a vapor e das máquinas de escrever. Com o perdão do trocadilho, a Bosch Mobility, que passa a ser a maior unidade da companhia, traz a melhor notícia que os saudosistas podem ouvir, mas o foco desta descarbonização não está, exatamente, ao alcance de quem guia um modelo popular.
“Seguiremos anunciando novos produtos para melhorar a experiência do motorista ao volante, resolver os gargalos atuais da condução autônoma e de carregamento dos EVs, mas, principalmente, para reduzir as emissões do setor de transportes”, disse o presidente da subsidiária para as Américas do Norte, Central e do Sul, Paul Thomas. “Nossa prioridade é impulsionarmos a economia de energia limpa nos Estados Unidos e Canadá, com a produção e o fornecimento de hidrogênio”.
O leitor que tem maior conhecimento técnico sabe que os motores a hidrogênio compartilham muitos componentes com os de ciclo Diesel, sendo uma alternativa mais simples e barata em relação aos EVs e células a combustível. Seu grande atrativo é que, quando abastecido com hidrogênio verde – obtido a partir da eletrólise e fontes renováveis – ele é quase neutro em carbono.
“Os veículos pesados e extrapesados precisam de flexibilidade para o transporte de cargas e, pelo menos por enquanto, a eletrificação não suporta suas exigências”, pontua Thomas.
Só nos EUA, o governo norte-americano está investindo US$ 7 bilhões (o equivalente a R$ 45 bilhões) na construção de centros regionais para produção de hidrogênio limpo – não confundir com o hidrogênio cinza, obtido a partir de combustíveis fósseis. De acordo com o executivo, a Bosch Mobility já recebeu as primeiras encomendas de fabricantes de caminhões europeus, chineses e norte-americanos.
Bom, como se pode ver, apesar da boa notícia para os conservadores, o Brasil não foi mencionado nem “en passant” pela companhia. De sorte, porque seguiremos pagando os maiores preços do mundo pelos automóveis mais desatualizados do planeta.
Marcha à ré
Já com relação ao ‘iCar’, da Apple, é muito provável que ele chegue ao mercado – isso, se chegar – quando todas as peças do tabuleiro já tiverem sido mexidas. É que enquanto seu EV “inteligente” fica para depois de 2028, a terceira onda de montadoras chinesas já está em curso como um tsunami, puxada por nomes ainda desconhecido dos brasileiros, como Niutron, IT Box, Qing, Cheg Shi Dai e Binli, dentre outras 43 marcas – isso mesmo, quarenta e três! – domésticas, que vêm encarando a concorrência ocidental.
Enquanto a Apple empurra seu ‘iCar’ com a barriga, Baidu – espécie de Google chinês – e Huawei anunciaram, ontem, uma parceria para o desenvolvimento de novos sistemas avançados de assistência (ADAS), que vai integrar os mapas da primeira ao cockpit inteligente da segunda, cobrindo milhões de vagas em estacionamentos e todos os semáforos de nada menos que 3.000 cidades chinesas.
O anúncio de que o plano original, de lançar um EV com a condução autônoma mais avançada (Nível 5), dispensando o motorista, já havia sofrido uma constrição, quando do primeiro adiamento – o ‘iCar’ foi, então, reagendado para 2026 e suas funções 100% autônomas, limitadas às rodovias. Mas agora, com o novo rebaixamento para o Nível 2+, o mesmo disponibilizado hoje pela Tesla e que obriga o condutor a permanecer alerta durante todo o tempo, é praticamente uma marcha à ré.
“O projeto, que completou uma década, ainda existe, mas mudou bastante. Anteriormente, os relatórios da Apple sugeriam um carro sem volante ou pedais. Agora, as conversas com potenciais parceiros europeus, que produziriam o novo EV, dão conta de um modelo quase convencional. A oferta de condução autônoma de Nível 4 continua em pauta, mas em um futuro tão distante que, diante dos fatos, parece incerto”, comentou o correspondente Mark Gurman, para a “Bloomberg”.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Jornalista Automotivo