BYD: por que gigante chinesa promete revolucionar a indústria no Brasil

Chineses têm o quarto maior valor de mercado do mundo e 46 modelos em seus portfólios; investimento na produção de elétricos, em Camaçari (BA), será de R$ 3 bilhões
HG
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14.07.2023 às 21:27 • Atualizado em 12.11.2024
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Chineses têm o quarto maior valor de mercado do mundo e 46 modelos em seus portfólios; investimento na produção de elétricos, em Camaçari (BA), será de R$ 3 bilhões

A BYD chegou ao Brasil não faz nem dez anos e, mesmo que poucos se deem conta, já se consolidou como referência em veículos elétricos (EVs). No início deste mês, o grupo chinês anunciou o investimento de R$ 3 bilhões na antiga fábrica da Ford, em Camaçari (BA), onde irá produzir os primeiros EVs “made in Brazil”, dando o pontapé inicial para a virada da eletromobilidade no país.

Seu mais recente lançamento, o hatch Dolphin, bateu o recorde histórico de vendas do segmento em menos de uma quinzena e, até o fim deste ano, a marca vai formatar uma rede de concessionários com 50 pontos, que receberão o novíssimo Seagull em 2024. Mas, afinal de contas, que empresa é essa a encarar gigantes como a Volkswagen, a General Motors e a Stellantis, que agrupa Citroën, Fiat, Jeep, Peugeot e RAM, entre outras?

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Comecemos por uma cifra: R$ 2 trilhões anuais. Este é o faturamento do grupo e a primeira coisa que o leitor deve ter em mente, até porque ele é R$ 510 bilhões ou 30% maior que o do Grupo VW, a Volkswagen AG.

Segundo, que a BYD Auto – a pronúncia correta é “Bi, Uai, Di” ou “biuáidi” – é o braço automotivo da BYD Company, titã do setor industrial com sede em Shenzen (Província de Xian) que produz desde baterias para telefones celulares, passando por painéis solares, até ônibus elétricos – para quem não sabe, a marca produz coletivos elétricos em Campinas (SP), desde 2015.

No ano passado, o fabricante vendeu nada menos que 3,34 milhões de automóveis, em nível global, e, no primeiro semestre deste ano, já figura como a 12ª maior montadora do mundo, com uma alta de 82,5% - contra 3,3% da Toyota, líder mundial entre janeiro e junho.

O 12º lugar pode não parecer tão honroso, mas a BYD foi fundada há apenas 20 anos, enquanto a Toyota tem 85 anos de idade e a GM, 114 anos. Em menos tempo ainda, ela fez aquilo que era considerado impossível e desbancou a Tesla, de Elon Musk, da liderança global entre os elétricos.

Só nos primeiros seis meses deste ano, a BYD vendeu mais de 1,1 milhão de modelos 100% elétricos em nível mundial, com uma vantagem de mais de 30% sobre a Tesla. Hoje, o valor de mercado da montadora chinesa é de US$ 104,7 bilhões (o equivalente a R$ 510 bilhões), número que a coloca na quarta posição do ranking, muito próxima do terceiro lugar, hoje ocupado pela Porsche – Mercedes-Benz, VW, BMW, Ford, Ferrari, Stellantis, GM, Honda e Hyundai já foram superadas pela BYD e deixadas muito para trás.

No mundo das finanças, que espelha as expectativas do mercado em relação a um negócio e sua atração de investimentos, a BYD também está entre os fabricantes que mais crescem: 11,5%, nos primeiros setes meses deste ano.

Mas é no número de colaboradores que a marca mostra seu gigantismo, com 288 mil empregados diretos, mais do que todo o grupo Stellantis e mais de quatro vezes o quadro da Hyundai. E ao contrário do que muita gente imagina, a BYD não é uma estatal chinesa, mas uma companhia de capital aberto, em que apenas três pessoas, seu fundador e presidente-executivo (CEO) Wang Chuanfu (com 17,6% das ações), seu cofundador Lu Xiangyang (13,5%) e o megainvestidor Li Lu (8,2%) detém quase 40% do controle acionário.

BYD ataca em todos os cenários

A BYD é dona de outras três submarcas de elétricos: a Denza (uma joint venture com 10% de participação da Mercedes-Benz), a novíssima FangChengBao, que terá produtos em uma faixa intermediária, e a YangWang, voltada exclusivamente para o mercado de alto luxo.

Hoje, a empresa conta com seis fábricas de automóveis – excluindo-se as de veículos pesados: em Xian, Changsha e Shaoguan, além de dois centros de pesquisa e desenvolvimento (R&D), em Shenzhen e Xangai.

A fábrica brasileira de Camaçari (BA) será, portanto, a primeira fora da China dedicada à fabricação de carros híbridos e elétricos – e isso tem uma importância muito maior do que vem sendo dada pelos portais e jornais, no que tange à conjuntura global da indústria automotiva.

Ao todo, a BYD e suas marcas produzem mais de 46 modelos diferentes, com direito a um monovolume compacto (o D1 MPV) com portas deslizantes, exclusivo para transporte por aplicativo da DiDi – a “Uber” chinesa. Apenas para efeito comparativo, o portfólio atual da Volkswagen, marca que tem uma produção regionalizada em, praticamente, todos os continentes do mundo, é de 34 modelos – lembrando que estamos contando apenas carros de passeio e comerciais leves.

As gamas BYD, Denza, FangChengBao e YangWang cobrem faixas de preços que partem de o equivalente a R$ 47.200 (referente ao subcompacto e1, um EV de 3,46 m de comprimento com autonomia de 305 km, sem necessidade de recarga das baterias) a até R$ 740 mil (caso do jipão U8, da YangWang, que mede 5,30 m, desenvolve nada menos que 1.180 cv de potência e, acredite, pode navegar na água).

Por fim, um dado que demonstra o tamanho da BYD e, principalmente, a importância de sua aposta no mercado brasileiro: nos primeiros seis meses de 2023, a marca vendeu 1,25 milhão de veículos de novas energias (híbridos, híbridos plug-in e elétricos), quase 35% mais do que a soma de todos os automóveis de todas as marcas vendidos no Brasil, juntos.

Como se pode ver, o investimento da BYD no Brasil não aponta apenas para a virada da eletromobilidade, mas para a tão esperada e desejada reindustrialização do país, nominalmente do setor automotivo, que nos devolverá competitividade para as exportações.

 Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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