Chinesa dona da Volvo será segunda montadora a lançar satélites espaciais
No Brasil, tem-se sempre a impressão de que há uma força invisível impulsionando nossas vidas rumo ao futuro. Isso porque, na prática, não há um movimento ordenado, nem político e muito menos empresarial, que sugira uma busca pelo avanço – pelo contrário.
Quando se trata de eletromobilidade, então, a maioria dos brasileiros pensa que é uma moda passageira, algo que nunca dará certo por aqui.
Mas há quem se prepare para o amanhã de forma mais pragmática e, na China, a Geely, uma das maiores fabricantes locais e que, inclusive, é proprietária da marca sueca Volvo, concluiu no mês passado seu primeiro ciclo de lançamento de satélites orbitais que formarão uma nova rede para sistemas de navegação.
Os nove GeeSAT-1, projetados e fabricados pela própria companhia, foram lançados de um centro aeroespacial em Xichang, na província de Sichuan. “Até 2025, teremos 72 unidades em órbita de um plano que engloba 240 satélites”, detalha o presidente-executivo (CEO) da Geespace, subsidiária do Geely Technology Group (GTG), Tom Wang.
Já no Canadá, o provedor e fabricante de sistemas de localização NovAtel, que fatura US$ 4,7 bilhões (o equivalente a R$ 24 bilhões) anualmente, confirmou que será pioneiro no uso dos dados obtidos pela startup Xona Space Systems e sua rede de 300 ‘cubesats’.
O programa da Geespace, que atende pelo sugestivo nome de ‘Constelação da Mobilidade Futura’, deu o pontapé inicial com o lançamento de nove satélites.
“Estas primeiras unidades têm uma vida útil programada para cinco anos e sua primeira aplicação é prover serviços logísticos para a primeira plataforma de monitoramento e gerenciamento de todos os processos de transporte, em tempo real”, destaca Wang.
“Inicialmente, a cobertura de nosso serviço vai se limitar ao mercado chinês e à região de Ásia e Pacífico, mas nossos planos são para uma expansão global”.
Pode parecer piada de mau gosto, mas ao mesmo tempo em que o Brasil entrega a administração da Base de Alcântara, onde fica o Centro de Lançamento da Barreira do Inferno (CLBI), para o governo americano, os chineses põem em prática um plano em que só a Geely irá investir quase US$ 330 milhões (o equivalente a R$ 1,7 bilhão) na construção de satélites!
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Antes que a patrulha ideológica dos que só leem títulos de artigos insinue que há trabalho escravo, alerte para um projeto comunista de vigilância – quem não se lembra da vacina chinesa supostamente com ‘chip’? – ou faça previsões ainda mais delirantes, cabe frisar que a Geely é um grupo privado, que – pasme! – entrou no segmento automotivo há apenas 25 anos.
Apenas para dar uma referência ao leitor, a Gurgel, que o Brasil deixou morrer, completaria 53 anos no próximo dia 1ª de setembro. De qualquer forma e para estancar a ferida moral que isso representa, hoje, a GZH ocupa apenas a sétima posição entre as maiores fabricantes de veículos da China.
De volta aos fatos, a Geespace se tornou a segunda montadora a ingressar no segmento espacial, já que a Tesla, do multibilionário Elon Musk, possui um braço, a SpaceX, que opera com mais de 2.000 satélites em órbita, oferecendo serviços de internet por meio de sua rede Starlink.
“O setor aeroespacial comercial conta com ambiente muito favorável, em termos políticos e de mercado, e nosso foco são serviços de sensoriamento remoto e comunicação de alta precisão com base no espaço físico, além da expertise em infraestrutura e suporte que já estamos desenvolvendo”, pontua Wang.
“Sobre o impacto ambiental, posso garantir que, após cinco anos de uso, estas nove unidades que lançamos se desintegrarão na atmosfera, sem deixar qualquer tipo de detrito”.
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Toyota e Honda
Os japoneses também estão de olho neste filão e prova disso é que a Toyota vem investindo na norte-americana Xona Space Systems, que constrói o mesmo tipo de satélites usados pela SpaceX e pela Geespace. A rodada de financiamento de que os nipônicos participaram levantou US$ 25 milhões (quase R$ 128 milhões).
“Não podemos esquecer que, recentemente, a Mercedes-Benz realizou seu ‘Car2space Challenge’, uma competição de inovações focada em veículos autônomos (AV) e que a Honda também confirmou o desenvolvimento de um foguete reutilizável, que deve entrar em fase de testes já em 2030”, comenta o diretor de mobilidade da Strategy Analytics, líder global no suporte a empresas em planejamento e serviços de consumo, Roger Lanctot.
“As montadoras estão olhando para o céu em busca das soluções que conectividade que seus automóveis demandam e demandarão cada vez mais”, acrescentou.
Os satélites Pulsar fornecerão dados de geoposicionamento com precisão de até 10 cm – pouco menos de quatro polegadas. “O padrão atual mais avançado de GPS, usualmente, tem 50 cm de precisão”, detalha o presidente-executivo (CEO) da Xona, Brian Manning.
“Seu maior ganho, no entanto, está relacionado à qualidade e à confiabilidade do seu sinal, que é 100 vezes superior ao do GPS de hoje. Hoje, este tipo de tecnologia é condição ‘sine qua non’ para o desenvolvimento do setor de transportes e para os AVs. Estamos assistindo a uma enorme mudança de paradigma, porque tivemos mais lançamentos de satélites, nos últimos cinco anos, do que em toda a história”, completa.
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A Toyota, por exemplo, está de olho nos dados de localização que estes satélites vão fornecer, para aplicá-los em futuros modelos autônomos.
“Nosso parceiro está construindo uma alternativa de alta performance ao GPS atual, projetada para atender as necessidades dos AVs. Um novo conceito de navegação, mais preciso, rápido e seguro, capaz de ampliar nosso portfólio”, disse o diretor executivo e membro do conselho do braço de capital de risco da montadora, Jim Adler.
“A rede usada pela telefonia móvel apresenta falhas de cobertura e não há como otimizá-la para a condução autônoma. Os sistemas de satélites são uma oportunidade emergente”, complementa.
Adler revela que a Toyota já investiu US$ 300 milhões (o equivalente a R$ 1,5 bilhão) no segmento aeroespacial e que a companhia será, daqui para frente, uma empresa de mobilidade e não apenas um fabricante de automóveis.
Pelo visto, enquanto o Brasil dá uma avestruz e enfia a cabeça cada vez mais fundo no buraco, os norte-americanos, os japoneses e os chineses – estes últimos que, há 40 anos, tinham uma indústria menor que a brasileira, além de participação inferior à nossa no comércio internacional – miram o céu, para cima do horizonte.
A situação brasileira é, definitivamente, lastimável…
Imagens: Divulgação/Geely
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
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