Nos EUA, 80% dos consumidores pretendem comprar um elétrico

Apesar de os veículos elétricos terem crescido mais no Brasil (1.087%) do que na terra do Tio Sam (5,2%), neste ano, consumidor tupiniquim ainda os enxerga com descrédito
HG
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28.05.2024 às 19:00
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Apesar de os veículos elétricos terem crescido mais no Brasil (1.087%) do que na terra do Tio Sam (5,2%), neste ano, consumidor tupiniquim ainda os enxerga com descrédito

Falsear as estatísticas e manipular dados são apenas duas formas muito usadas pelo mecanismo de desinformação. No Brasil, onde as montadoras cobram os maiores preços do mundo por automóveis em descompasso tecnológico com os ofertados por elas mesmas nos mercados de Primeiro Mundo, é lucrativo que o consumidor se mantenha fiel aos motores a combustão.

Mas, nos Estados Unidos, onde o Tio Sam acaba de quadruplicar o imposto de importação para EVs “made in China”, a virada da eletromobilidade não será contida nem pela intervenção estatal na economia. “O interesse por veículos elétricos tende a crescer no longo prazo e, até 2028, quase 80% dos norte-americanos considerarão a compra um EV, na hora de trocar seu automóvel”, conta a diretora de insights da consultoria Cox Automotive, maior empresa do mundo em soluções para o mercado automotivo, Stephanie Valdez Streaty.

Ela apresentou o estudo ‘Path to EV Adoption Study de 2024’, na última semana, que entrevistou 2.557 consumidores, e o “dado mais relevante é que 55% dos pesquisados consideram a compra de um EV, já nos próximos dois anos”, destacou ela.

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A estratégia das grandes montadoras, de cozinharem o brasileiro em banho-maria, empurrando produtos datados por aqui ao mesmo tempo em que aderem à virada da eletromobilidade na China, Europa e Estados Unidos, gera um incômodo desafino como, por exemplo, o que sai da “orquestra” da Honda.

Enquanto o presidente-executivo (CEO) da marca japonesa, Toshihiro Mibe, anuncia que vai dobrar o investimento global em EVs, para a casa de US$ 64 bilhões (o equivalente a R$ 326,6 bilhões), lançando sete novos veículos elétricos, até 2030, o presidente para a América do Sul, Arata Ichinose, promete um aporte 77 (setenta e sete) vezes menor para o Brasil, de R$ 4,2 bilhões, com foco nos modelos híbridos.

Não é preciso ser matemático para notar que o valor investido aqui dá para, apenas e tão somente, embarcar uma tecnologia em desuso num navio, no Japão, e desembarcá-la em “Vera Cruz”, estendendo seu uso.

“Nos Estados Unidos, mais da metade dos ouvidos em nossa pesquisa se diz pronta para comprar um EV dentro de, no máximo, cinco anos, mas que isso dependerá do crescimento da infraestrutura de recarga das baterias e da percepção de que os veículos elétricos têm alcance cada vez maior. Hoje, um grupo de céticos, que não chega a 20%, segue afirmando que ‘jamais’ comprará um EV”, disse Stephanie Valdez Streaty, da Cox Automotive.

Um fato curioso é que, no primeiro quadrimestre deste ano, as vendas de veículos elétricos cresceram mais, no Brasil (+ 1.087%), do que no mercado norte-americano (+5,2%), em relação ao mesmo período de 2023. Lá como cá, o preço é o fator que mais distancia o comprador de seu primeiro EV:

“Nos EUA, mesmo os entrevistados que não pretendem comprar um veículo elétrico, nos próximos 24 meses, reconsiderariam a decisão se, nos próximos dois anos, um EV passasse a custar o mesmo que um modelo equipado com motor a combustão”, pontua Stephanie.

Adequação à eletromobilidade

No país da democracia liberal, o estado intervém na economia não apenas para taxar os produtos chineses, mas também para impulsionar uma adequação dos setores primário, secundário e terciário à virada da eletromobilidade. O governo do presidente Joe Biden estabeleceu a meta de disponibilizar 500 mil carregadores públicos em todo o país, até 2030 – hoje, de acordo com o Departamento de Energia (DOE), existem 174 mil pontos.

Mas o próprio financiamento federal, por meio do programa Nacional de Infraestrutura de Veículos Elétricos, não é bem compreendido pelos norte-americanos: “De fato, 40% dos consumidores não sabem como os incentivos governamentais os beneficiam”, afirma o diretor executivo de inteligência da JD Power, Steart Stropp, citando novo estudo da consultoria, divulgado na semana passada.

Para ele, priorizar iniciativas e esforços para educar os norte-americanos sobre os EVs, incluindo os incentivos disponíveis e como funcionam, é vital para acelerar a virada da eletromobilidade.

“Basta ver que cerca de 40% dos ouvidos não conhecem ninguém que possuiu um veículo elétrico e nem sabe quais, dentre as marcas tradicionais, trazem este tipo de produto em seu portfólio. Note que apenas um 1/3 dos consumidores pesquisados disseram ter ciência de que a Nissan oferece um EV, nos Estados Unidos, sendo que a marca vende o Leaf – seu modelo 100% elétrico – nos EUA, desde 2010”, exemplifica Stropp. “Ninguém sabe, por exemplo, que leis federais obrigam os fabricantes a garantirem uma vida útil das baterias automotivas de, no mínimo, 160 mil quilômetros”.

Se, no “país da liberdade”, o problema é fazer a informação qualificada chegar às pessoas, no país da piada pronta o desafio é bem maior, na medida em que a desinformação não se contenta em barrar o conhecimento, mas em distorcer os fatos para beneficiar econômica e politicamente grupos até pequenos, levando o incauto brasileiro a pagar preços escorchantes por automóveis em final de carreira, com a satisfação de quem adquire a quintessência da tecnologia.

Por aqui, os EVs ainda são vistos – até mesmo por gente graduada, que frequentou ou ainda frequenta boas escolas – como algo que “nunca dará certo”, um descrédito que segue sendo alimentado enquanto um paupérrimo Renault Kwid parte de R$ 73 mil e um ultrapassadíssimo Honda City não sai por menos de R$ 120 mil. É como diz o ditado, que não me canso de repetir: “enquanto houver cavalo, São Jorge não andará a pé’.

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Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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