Possível 1º carro elétrico nacional mescla Tesla com Gurgel e Romi-Isetta
Dizem que a História é cíclica. O primeiro carro de passeio produzido no Brasil, de acordo com diversos registros históricos, foi a simpática Romi-Isetta, lançada em setembro de 1956. Tratava-se de um veículo de três rodas e dois lugares, do tipo “bolha” (um dos famosos bubble cars, comuns naquela época), com porta que se abria para frente.
A produção era tocada pela Romi, fabricante legitimamente nacional especializada em maquinário industrial. A empresa adquiriu da Iso Rivolta, montadora italiana criadora do projeto – o nome “Isetta” era um diminutivo de Iso –, os direitos de produzir e comercializar o pequeno e funcional triciclo no país.
Que, por suas características, sequer era considerado um automóvel. Por isso, não recebeu os mesmos subsídios fiscais do governo Juscelino Kubitschek que a Vemag teria para iniciar o fabrico da perua Vemaguet dois meses mais tarde. Talvez isso ajude a explicar o fracasso do projeto.
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Gurgel Itaipu foi a primeira tentativa de um elétrico nacional, mas não passou da fase de protótipo
Sessenta e seis anos depois, podemos estar às vésperas de ter o primeiro automóvel elétrico sendo produzido em série e de maneira contínua por aqui. Sim, tivemos nos anos 70 o Gurgel Itaipu E150, mas este nunca passou da fase de protótipos, como já contamos. Depois, o Gurgel Itaipu E400, mas este era um furgão, não um veículo de passeio, e foi fabricado em um único lote de 1.000 unidades.
E se você esperava por um carro da Fiat ou da Volkswagen, talvez se surpreenda com o fato de que ele pode ser feito por uma empresa também 100% nacional, e com características muito similares às da velha Romi-Isetta.
Conceito de veículo de três rodas com dois lugares é muito similar ao da Isetta
Na tarde desta sexta-feira, a Prefeitura de Maringá (PR) realizará no paço municipal um evento de apresentação do Kers Wee, proposta de um veículo elétrico urbano que, assim como a velha Isettinha, tem só três rodas e dois lugares, embora conte com duas portas laterais em vez de uma dianteira.
O conceito do veículo foi desenvolvido no próprio Estado, em projeto encabeçado pelo engenheiro Carlos Motta, que envolveu pesquisadores da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) e do Inbramol (Instituto Brasil de Mobilidade), com incentivo do Seti (Superintendência de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do Paraná).
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Projeto 100% nacional
De acordo com os criadores, o modelo foi desenvolvido para ser produzido apenas com componentes nacionais, de modo a ter um custo “até 60% menor” que o dos atuais carros elétricos mais baratos no país – o mais em conta de todos, atualmente, é o JAC e-JS1, de R$ 150.000. Seu preço inicial, portanto, ficaria abaixo de R$ 100.000.
Ainda, ele tem o chamado “conceito de energia circular”, que prevê remanufatura e reciclagem do veículo e de seus componentes ao fim do ciclo de uso. Os desenvolvedores também afirmam que o ferramental já foi adquirido, e que a fabricação será por sistema modular de linha de montagem, sob consultoria de engenheiros da extinta Karmann-Ghia.
O protótipo a ser exibido em Maringá foi construído com bilha de fibra de vidro, mas a Kers, uma startup criada pelos membros de Seti, Unioeste e Inbramol envolvidos no projeto, garante que a versão de produção terá carroceria formada por chapas de aço estampado. Daí a consultoria com os ex-membros da Karmann-Ghia.
Os criadores do elétrico afirmam que ele será comercializado em diferentes pacotes de baterias, que conferirão autonomias na casa de 100, 200 ou até 400 km, a depender da versão. Já o motor elétrico deve ser padronizado. Embora dados de potência e torque não tenham sido revelados, a estimativa é que sua velocidade máxima fique em 100 km/h.
Por outro lado, os criadores garantem que o modelo terá tecnologias semiautônomas de condução embarcadas, embora não digam ainda quais.
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Produção depende de investidores
A apresentação do Kers Wee será em Maringá porque é na cidade do norte paranaense que a empresa pretende instalar sua fábrica. Ela, inclusive, já teria adquirido o ferramental e trabalha com uma capacidade estimada de 10.000 veículos por ano.
Falta definir o espaço para instalar a fábrica, mas a startup deseja lançar o produto no mercado ainda no primeiro semestre de 2022. Entretanto, o evento no paço municipal servirá também como “rodada de negócios”, no qual os criadores do Wee buscarão potenciais investidores para embarcar no projeto. Ainda não está claro se o lançamento do Wee depende desses investidores para acontecer.
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Estratégia inspirada na Tesla
Seja como for, a Kers se inspirou na Tesla para definir a estratégia de venda do Wee. Os diretores da companhia prometem espalhar showrooms do modelo em shoppings e locais de grande público nas principais cidades do país. Porém, em vez de concessionárias, trabalhará com vendas pela internet.
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Jornalista Automotivo