Tesla terá gigafábrica que montará carros elétricos de jeito inédito
O México foi e o Brasil ficou. Esta simples frase traduz o anúncio da Tesla, nas últimas semanas, de que irá construir em Monterrey, capital do Estado de Nuevo León, uma fábrica de automóveis 100% elétricos, aportando o país no avanço da eletromobilidade.
A unidade, que não teve sua capacidade de produção revelada, promete “revolucionar” o atual sistema de montagem, suprimindo alguns processos e segmentos de linha em função da segunda geração de EVs integrar os pacotes de bateria à estrutura (ao assoalho), todavia mantendo o conceito original do fordismo e do toyotismo.
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A promessa é de ganhos em eficiência da ordem de 30% a 44%, com um rearranjo da planta que promete aos acionistas 50% de redução nos custos de produção. Trata-se de um conceito chamado por Elon Musk, o CEO da companhia, de “Paralela e Serial”.
Através dele, em vez de seguir as atuais sequências de estamparia, armação de carroceria, pintura e montagem final, os veículos serão montados por módulos, que serão reunidos em um só ponto na fase final da produção.
Ainda não há muitos detalhes sobre o método, mas sabe-se que todo o assoalho, dotado dos bancos de baterias, será acoplado na última etapa da linha, porém já com os bancos dianteiros instalados. Espera-se que o processo esteja presente no fabrico de um hatchback de entrada da marca, abaixo do Model 3, e em uma van.
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Mexico in, Brazil out
Para os iniciados, o ‘data show’ que Elon Musk exibiu durante o “Investors Day 2023” trouxe algo muito parecido com o ‘Fast Lane’ chinês, mas sem adiantar o investimento na super fábrica mexicana – de qualquer forma, é desta unidade que sairá “o modelo mais acessível da marca”.
O discurso foi bem recebido pela bolsa, já que as ações da marca subiram mais de 4% no dia seguinte ao evento, em que pese o fato de a capitalização atual da Tesla, de US$ 633,7 bilhões (o equivalente a quase R$ 3,3 trilhões), não esconder a perda em relação ao US$ 1,06 trilhão (R$ 5,5 trilhões atuais) registrado em 2021.
Há menos de um ano, o todo-poderoso da Tesla esteve no Brasil e se encontrou com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Na época, Musk foi assediado não só por Bolsonaro, mas por todo o primeiro escalão do governo, que não poupou o industrial de centenas de pedidos para ‘selfies’.
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Na época, Musk declarou publicamente que sua visita era motivada pela venda do sistema de internet por satélite Starlink para regiões da Amazônia (19 mil pontos, com um custo inicial de R$ 57,6 milhões, mais assinaturas mensais no valor de R$ 10 milhões).
Ainda assim, aliados do então governo ventilaram que São Paulo estava na disputa por uma nova fábrica de elétricos, exatamente a que foi anunciada no México.
Agora, com o anúncio oficial de Monterrey, não sobraram nem as migalhas de sempre aos brasileiros, já que nenhum contrato foi fechado, desde a passagem do bilionário – condecorado com a Medalha da Ordem do Mérito da Defesa, honraria antes concedida apenas por relevantes serviços às Forças Armadas – por aqui.
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De volta ao “Investor Day 2023”, acionistas e analistas de mercado que estiveram no evento esperavam um plano de negócios que recolocaria a Tesla no topo do mundo, entre os EVs – a liderança foi perdida para a chinesa BYD Auto.
“Musk, entretanto, preferiu dar a eles um seminário sobre processos, cadeia de suprimentos e softwares. Tentou convencer os investidores e consultores que sua marca está muito à frente da Toyota em tecnologia e eficiência, rumo à meta de fabricação de 20 milhões de veículos, por ano – o dobro da Toyota”, comentou o analista de eletromobilidade do “New York Times”, Jack Ewing.
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“No fundo, tanto os acionistas, quanto os investidores, se decepcionaram, porque esperavam um grande anúncio sobre novos produtos e estratégias comerciais”. A verdade é que os acionistas da Tesla não gostaram nada de terem, indiretamente, financiado a compra bilionária do Twitter por Elon Musk.
Agora, eles querem saber, detalhadamente, quanto tempo o executivo se dedica à marca e quanto às outras quatro empresas que dirige. “Temos um conselho e gestores ativos”, garante o novo secretário corporativo da montadora, Brandon Ehrhart, dando uma aos mais preocupados com governança e sucessão.
“Somos mais do que Musk”, garantiu Ehrhart, num momento em que as fanfarronices do chefão começam a afastar consumidores e investidores.
“Enquanto formos úteis”
A linha sucessória da Tesla é encabeçada pelo chinês Tom Zhu, que é, hoje, o executivo mais proeminente da montadora. Ele supervisionou as operações da Ásia e dos países da região do Pacífico, foi o responsável pela fábrica da fábrica da empresa em Xangai se tornar mais produtiva em todo o mundo e assumiu a planta texana, em Austin, no final de 2022.
Já Ehrhart, que é o novo ‘conselheiro geral’, veio da Dish Network – fornecedora de serviços de transmissão direta por satélite, que oferece TV por assinatura – no início deste ano, em uma contratação badaladíssima.
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Ele, enigmaticamente, disse aos investidores durante o ‘Investors Day 2023’ que eles “ouvirão mais de nosso conselho no momento apropriado”, sem entrar em detalhes sobre assuntos ou prazos – uma embromação completa.
Fato é que, depois de ser recebida com tapete vermelho pelo governo chinês, gozando do privilégio de ser a única montadora estrangeira autorizada a ter o controle total de suas operações locais, há um escrutínio regulatório pressionando a marca, atrás da Grande Muralha.
Zhu, fazendo sua primeira aparição desde que se mudou de Xangai para a sede da Tesla, no Texas, foi questionado sobre os planos da marca, de aumentar a participação de mercado na China e as tensões entre as duas maiores economias do mundo.
“Criamos muitos empregos, na China, com a fábrica e nossa cadeia de fornecedores, contribuindo muito para a comunidade local”, disse ele. Nunca é demais lembrar que a “função social” dos negócios, demonizada pela baixa burguesia brasileira, é coisa séria por lá.
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“Mais de 95% de nossos fornecedores em Xangai são companhias locais e, para além disso, geramos 30 mil empregos direitos, com apenas 20 expatriados em nosso pessoal. Pelo menos enquanto formos úteis aos chineses, não vejo riscos”, acrescentou.
Para quem acompanha as peripécias de Elon Musk, parece claro que, depois de o governo californiano se intrometer na operação da Tesla em sua unidade de Freemont, empurrando os negócios para o outro lado do mundo, a garrote que os chineses colocaram no pescoço da marca parece obrigá-la a buscar novos ares.
Neste contexto, o México, onde os americanos sempre fizeram o que bem entenderam, é o lugar mais “seguro” para suas operações. Para nós, brasileiros, fica a dúvida se Musk, um dia, chegou mesmo a cogitar a instalação da nova linha de montagem por aqui - eu, pessoalmente, duvido - ou se tudo não passou de propaganda enganosa do governo que foi “descontinuado”.
Afinal, e sabendo como o capital estrangeiro era atraído para solo tupiniquim, nada indica que a Tesla estava realmente disposta a presentear quem quer que fosse para garantir melhores condições operacionais no Brasil.
Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.
Jornalista Automotivo