Uber sem motorista pode gerar R$ 2,2 trilhões para VW, Ford e Volvo
Sempre atrás das nações desenvolvidas, o Brasil segue desconfiando da virada da eletromobilidade, enquanto os Estados Unidos vivem um momento positivo para os veículos autônomos (AVs), mais especificamente para os serviços de transportes de passageiros e cargas sem motorista.
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“O futuro em que os AVs serão amplamente difundidos e viáveis, comercialmente, não está tão próximo quanto os especuladores fazem parecer”, afirma o diretor de segurança da Cruise, subsidiária da General Motors, Steve Kenner.
O executivo reconhece que, após 15 anos de esforços de Engenharia e bilhões de dólares em investimentos, novos desafios inauguram uma espécie de terceiro capítulo na história deste segmento.
“Centenas de veículos autônomos já são usados em serviços de compartilhamento e entregas, nos EUA, e este é um nicho que continuará crescendo, nos próximos anos, mas tivemos atrasos, acidentes que repercutiram muito negativamente e contratempos técnicos que estressaram a indústria”, completa Kenner.
O fato que não se pode perder de vista é que, para o setor
automotivo, os AVs ampliam o conceito de mobilidade, criando novas
oportunidades de negócio e, num mundo onde a ciranda financeira não pode parar
de girar, isso é o que conta.
O leitor também deve ter claro que um carro de passeio que dirija sozinho, que vá para qualquer lugar a qualquer hora, sem necessidade de motorista – o que equivale ao Nível 5 de automação – está a anos de ser disponibilizado para o consumidor comum. Mas apesar do tempo de espera que pode ser longo, o mais recente relatório da McKinsey & Company, consultoria especializada em estratégia, inovação e liderança, aponta que a condução autônoma pode gerar até US$ 400 bilhões (o equivalente a R$ 2,2 trilhões) em receitas adicionais para as montadoras, até 2035. Ou seja, antes desse tipo de automóvel chegar à sua garagem, ele se “populizará” nos aplicativos de compartilhamento, com robotáxis e robo-shuttles, e no setor de cargas, com caminhões autônomos.
“Necessitaremos de novos padrões de segurança, que já estão sendo discutidos, mas as regulações que possuímos, hoje, são confusas ou incompletas, e parâmetros de proteção que possam ser adotados globalmente simplesmente não existem”, comenta o presidente-executivo (CEO) da Associação da Indústria de Veículos Autônomos (AVIA), Jeff Farrah. A AVIA reúne desde fabricantes, como a Ford, a Volvo e a Volkswagen, até desenvolvedores e empresas de serviços, como a Aurora, a Cruise, a J. D. Power, a Uber, a UPS e a Waymo.
“Nos EUA, também enfrentamos questões trabalhistas que ganharam destaque nas últimas semanas, em função da corrida presidencial, e há ainda o fato de 2/3 dos norte-americanos temerem os AVs”, completa.
Waymo: 100 mil viagens semanais
A Waymo, subsidiária da Alphabet que captou mais de US$ 5,5 bilhões (o equivalente a R$ 300 bilhões) em investimentos externos, foi uma das pioneiras na implantação de veículos autônomos, na terra do Tio Sam. Em 2018, iniciou seus serviços em Phoenix, no Estado norte-americano do Arizona, e neste mês de agosto promoveu a maior expansão de sua cobertura, que agora inclui a cidade californiana de San Francisco e toda a Bay Area.
“Temos feito 100 mil viagens semanais”, confirma a co-CEO da empresa, Tekedra Mawakana. Pode parecer ficção para quem não conhece a Califórnia, mas o “Uber autônomo” é uma realidade por lá há algum tempo – você chama a corrida pelo aplicativo e o carro que chega para levá-lo até seu destino é autônomo, sem condutor.
Outras empresas estão prontas para segui-la, como a Zoox, subsidiária da Amazon, que até o final deste ano fará sua estreia em Las Vegas. A Tesla, de Elon Musk, também pretende revelar seu tão aguardado – e consecutivamente adiado – robotáxi, em 10 de outubro. “Nosso serviço autônomo de transporte pode estar disponível até o final deste ano”, disse Musk.
Após o hiato autoimposto em decorrência de um acidente envolvendo um de seus veículos autônomos, em São Francisco, em outubro passado, a Cruise retomou os testes de seus AVs, mas com motoristas humanos de segurança a bordo. De acordo com a Bloomberg, as viagens pelo aplicativo da empresa retornarão no início de 2025.
Enquanto isso, três empresas de transporte autônomo, a Kodiak Robotics, a Aurora Innovation e a Gatik, esperam lançar seus serviços comerciais sem motoristas humanos de segurança, até o final deste ano. “É um grande momento para o setor”, avalia Jeff Farrah, CEO da AVIA, ao mesmo tempo em que lembra dos impedimentos regulatórios:
“Nos EUA, temos leis federais que obrigam os motoristas de caminhões, caso parem no acostamento da estrada, a colocarem triângulos de advertência atrás de suas carretas – no Brasil, há uma legislação de trânsito semelhante que obriga os condutores de todas as categorias. O problema é que, sem humanos a bordo para realizar essa tarefa, as empresas de transporte autônomo não têm como cumprir a determinação, então, desenvolveram luzes dianteiras e traseiras que piscam, sinalizando que o veículo está parado”, explica Farrah.
Assim, Aurora e Waymo pediram, em janeiro do ano passado, que o órgão fiscalizador (a FMCSA) avaliasse se essas luzes são uma alternativa adequada, mas, um ano e maio depois, a agência ainda não respondeu à solicitação, freando o planejamento. Bom, pelo menos no campo da omissão estatal, parece que estamos tão “avançados” quanto eles...
Jornalista Automotivo