Vendas globais de automóveis a combustão cairão 39%, até 2026

Em queda desde 2017, modelos tradicionais serão superados pelos elétricos que terão participação global de 70%
HG
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28.06.2024 às 22:58 • Atualizado em 12.11.2024
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Em queda desde 2017, modelos tradicionais serão superados pelos elétricos que terão participação global de 70%

O brasileiro não se importa com o fato de o seu país ser o mercado de desova para as transnacionais do setor automotivo, que seguem vendendo automóveis ultrapassados por aqui, equipados com motores a combustão interna e pelos preços mais altos do mundo.

De fato, não há surpresa, afinal o sujeito que come feijoada servida no vaso sanitário – isso existe e o leitor pode checar – é capaz de tudo. Mas no além-mar, as coisas caminham noutro sentido e o mais recente relatório da BloombergNEF, o “Electric Vehicle Outlook” confirma aquilo que os negacionistas automotivos se negam a enxergar: o ano de 2017 foi o “pico comercial” dos modelos convencionais que, até 2026, verão seu volume global cair 39%.

 “Os EVs responderão por 44% das vendas mundiais, em 2030, saltando para 75%, em 2040. Depois de um forte crescimento, entre 2022 e 2035, os veículos verdes irão desacelerar em virtude da saturação dos mercados chinês, europeu e norte-americano e, também, pela infraestrutura de carregamento. Em função disso, os motores a combustão ainda terão aplicação em muitos países – leia-se no Terceiro Mundo –, mas não representarão mais do que 10% a 20% do ecossistema da mobilidade”, prevê o gerente de análise de transportes da provedora de pesquisas estratégicas, Colin McKerracher.

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A “boa notícia” para os negacionistas é que o Terceiro Mundo seguirá como mercado para desova. “A disparidade na adoção de EVs entre os países ricos e as economias emergentes tende a aumentar no curto prazo, mas há países ricos, como o Japão, que também ficarão para trás. Alguns mercados europeus avançarão mais rapidamente, como os países nórdicos (com 89%) e a Alemanha (com 59%). Nos Estados Unidos, o grande impulso governamental de hoje fará com que a participação dos modelos elétricos puros salte dos 7,5%, registrados em 2022, para 28%, daqui a dois anos”, pontua McKerracher, da BloombergNEF. De acordo com ele, a frota global crescerá ainda mais rápido, indo dos 27 milhões de EVs para 100 milhões, em 2026.

De olho nesses números, o Grupo Volkswagen anunciou, nesta semana, o investimento de US$ 5 bilhões (o equivalente a quase R$ 27,7 bilhões) numa parceria com a pequena Rivian, marca californiana de EVs que produziu menos de 60 mil unidades, em 2023.

“A troca dos motores a combustão para os elétricos requer conhecimentos em áreas que, historicamente, a VW acumulou pouca experiência. Criamos uma subsidiária em 2020, a Cariad, na esperança de desenvolvermos tecnologias para carregamento de baterias e softwares que nos permitissem rivalizar com a Tesla, mas o plano não funcionou como imaginávamos”, reconhece o presidente-executivo (CEO) da companhia, Oliver Blumer, que assumiu o cargo em setembro de 2022, após a demissão de Herbert Diess pelo escândalo da fraude nas emissões.

A “burrocracia” tecnocrata das gigante ocidentais, como a Volks, e a lentidão nas tomadas de decisões implicou em atrasos e perdas que vêm assolando as montadoras tradicionais.

 “Na prática, nosso aporte permitirá que a Rivian desenvolva mais opções e reduza seus custos para alavancar seus volumes, o que, no final, irá nos beneficiar a ambas”, explica Blumer.

No Brasil, alta de 650%

Sabemos que o negacionismo é como aquela doença que, apesar de ter fácil diagnóstico, é difícil de ser tratada, mas tomemos o Brasil como exemplo: nos últimos cinco anos, as vendas de automóveis de passeio e comerciais leves equipados com motores a combustão interna caíram 15,5%, de 1.035.427 para 874.570 unidades, tomando por base os meses entre janeiro e maio de 2019 e o mesmo intervalo, neste ano.

No período equivalente, os veículos eletrificados – que correspondem à soma dos híbridos (HEVs), híbridos plug-in (PHEVs) e elétricos puros (EVs) – saltaram de 11.858 para 88.800 unidades, alta de 650%. Apenas para o leitor ter uma ideia, estamos falando de 634,5 pontos percentuais em favor dos modelos eletrificados, diferença que até um animal irracional consegue entender, se devidamente esfregada no seu focinho.

A Associação Brasileira dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), que é a “Liga das Escolas de Samba” das montadoras – aquelas mesmas que desovam todo tipo de sucata por aqui –, divulgou sua projeção para o fechamento de 2024 com uma expectativa de crescimento de mais de 60% para esta classe.

“As vendas de veículos eletrificados confirmam o processo de interiorização da eletromobilidade no Brasil, com os municípios do interior, excluindo as 27 capitais, respondendo por quase a metade (46%) dos emplacamentos dessas tecnologias, no país”, destaca o presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Bastos. “A virada da eletromobilidade é um fenômeno que já se dissemina em diferentes regiões do país”, acrescentou.

Em outras palavras, enquanto gente que usa cabelo igual ao do Bozo (no caso, o palhaço norte-americano, o Bozo “original”) e gravata igual à do Carequinha (imortal palhaço brasileiro) passa os dias tentando convencer os incautos de que os EVs não são a melhor escolha para os tupiniquins, ajudando as transnacionais a empurrarem o passado goela abaixo do consumidor, até mesmo na roça já se sabe que os motores a combustão estão com seus dias contados e a indústria não vive de passado.

“Nós temos uma produção nacional de dois milhões de veículos e já tivemos 3,8 milhões. Com novas tecnologias, podemos chegar a cinco milhões de unidades e nos tornarmos um dos maiores ‘players’ mundiais”, avalia o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite. “É hora de criarmos ambientes de inovação, porque se o consumidor quer o carro elétrico puro, ele o terá”, concluiu.

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Este texto contém análises e opiniões pessoais do colunista e não reflete, necessariamente, a opinião da Mobiauto.

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