Avaliação: Honda ZR-V Touring em 11 sacadas geniais e 9 mancadas

Na mesma medida em que SUV derivado do Civic de 11ª geração esbanja conforto, qualidade construtiva e acabamento acertado, peca em desempenho e outros detalhes

Por Leonardo Felix

09.11.2023 às 20:30 • Atualizado em 12.11.2024

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O Honda ZR-V é o sucessor real do Civic no Brasil. Ousado afirmar que um SUV substitui um sedan, ainda mais quando o sedan em questão continua em linha. Mas convenhamos: vendido a R$ 260.000, importado da Tailândia em lotes muito pequenos, o Civic de 11ª geração se tornou quase um carro de vitrine no portfólio da marca japonesa.

Já o Honda ZR-V vem do México e tem uma meta até ousada para um veículo importado: emplacar cerca de 1.000 unidades por mês, volume maior que o de muito carro com produção nacional. Assim, se um dono de Civic G10 aparecer em uma concessionária querendo trocar de carro, o vendedor provavelmente oferecerá a ele um ZR-V, e não um Civic G11.

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Para tentar conquistar donos tradicionais de sedan a migrar para um SUV, a Honda destacará os atributos de “crossover versátil” do ZR-V: tem altura e músculos de um SUV, mas preservando a dinâmica de condução de um três-volumes. Será que a associação pega? A Mobiauto rodou com o novo ZR-V em seu lançamento para responder essa pergunta.

Neste artigo, já contamos um pouco sobre o Honda ZR-V, seu preço e posicionamento de mercado. Aqui, focaremos em suas qualidades e virtudes. Ele é comercializado em versão única, Touring, por R$ 214.500, sempre com motor 2.0 aspirado a gasolina. A unidade que testamos trazia a pintura de lançamento Azul Aurora, de mais R$ 2.300.

Honda ZR-V Touring 2024 - Preço: R$ 214.500. Pintura Azul Aurora: R$ 2.300. Total: R$ 216.800.

Honda ZR-V Touring 2024 - Pontos positivos

1. Espaço interno

Na briga contra Jeep Compass, Toyota Corolla Cross e VW Taos, o Honda ZR-V talvez seja o SUV compacto-médio com espaço mais generoso para as pernas e ombros na fileira traseira. Dá quase para se deitar em uma viagem mais longa, até porque a angulação do encosto lombar traseiro é acentuada (o que pode incomodar alguns usuários, bem como o posicionamento muito baixo do assento traseiro em relação aos dianteiros).

2. Dinâmica de condução

Mais adiante falaremos da questão do desempenho, mas a parte de dinâmica e dirigibilidade do ZR-V também pode ser considerada a melhor do segmento. A direção elétrica progressiva apresenta respostas muito diretas e precisas, sem ser leve nem dura demais. E a visibilidade dianteira é excelente, graças às colunas A fininhas.

As suspensões, independentes nos dois eixos, são permissivas em termos de inclinações da carroceria na medida certa para um SUV. Além disso, o vão livre do solo é maior que o de um Corolla Cross e os ângulos de ataque e saída são honestos, embora comprometidos pelos balanços dianteiro e traseiro encompridados.

3. Acabamento interno

Outro ponto, este indiscutível, em que o ZR-V chega para ser “a” referência no segmento de SUVs compactos-médios. Por ser um projeto originalmente criado para o público dos Estados Unidos, traz um padrão de acabamento notoriamente superior ao de seus rivais nacionalizados, principalmente em relação a Taos e Corolla Cross.

O painel e as guarnições das portas dianteiras são quase todos revestidos de plástico emborrachado e macio ao toque, enquanto o console central suspenso dá um charme à cabine. O painel, aliás, é basicamente o mesmo do Civic G11, e a Honda faz questão de ressaltar isso.

A pintura azul (que mais parece um cinza ou verde) é uma das três nas quais o ZR-V traz interior com couro claro. Muito elegante, mas encarde fácil.

4. Conforto

Não só os bancos com estabilizador corporal da Honda proporcionam uma ergonomia exemplar como o conforto acústico tem um padrão bem satisfatório, devido à aplicação de para-brisa acústico e forrações posicionadas estrategicamente pela carroceria, incluindo uma manta sob todo o assoalho do veículo.

As suspensões, dotadas de subquadros em alumínio nos dois eixos, não são moles nem duras demais, e os pneus com ombro 60 ajudam a absorver bem os impactos e manter o conforto. Assim, o ZR-V se torna um SUV de rodar macio, mas sem aquele comportamento molenga de barco, típico dos veículos vendidos na América do Norte.

5. Limpador de para-brisa

Possui a mesma tecnologia do Civic G11: o esguicho de água fica integrado à palheta, a fim de evitar desperdício. Mas não fica apenas nisso. Os limpadores grudam ou se soltam do vidro conforme se liga ou desliga o carro, a fim de não desgastar demais ou deformar a borracha, prolongando sua vida útil.

6. Tanque de combustível

A questão aqui não são nem os bons 53 litros de capacidade, mas sim o fato de a trava ficar integrada ao bocal. Ao destravá-lo e abri-lo, o frentista tem acesso direto para conectar a mangueira ao cano. Tudo pensado para o consumidor americano, que geralmente precisa abastecer ele mesmo o carro.

E com um detalhe: um pequeno funil vem no kit emergencial junto de estepe, macaco e triângulo de sinalização. Assim, se você tiver uma pane seca, fica mais fácil encher o tanque usando um galão.

7. Qualidade construtiva

O uso da plataforma do Civic G11 faz com que o ZR-V seja um automóvel de excelente qualidade construtiva. Quase 13% da carroceria é estampada com aço formado a quente, e duas das partes onde isso esse material vai aplicado são as colunas A. Por isso elas conseguem ser tão finas, sem perder a rigidez e comprometer a segurança.

Outros quase 50% do monobloco utilizam aços de alta ou ultra alta resistência, enquanto o teto é soldado a laser, ficando livre de pontos de solda em sua fusão com as colunas laterais.

8. Bagagito

Além de poder ser removido ou recolocado livre de travas, alças ou presilhas, pode ser torcido e dobrado como um rebatedor de luz, para ser guardado em uma sacola ocupando praticamente espaço nenhum dentro de casa ou do próprio veículo. Truque de gênio!

9. Carregadores em abundância

São seis, ao todo. Um por indução, no console central. Duas tomadas USB tipo C dianteiras, localizadas nas extremidades laterais do console suspenso, e uma USB tipo A presente no painel. Por fim, outras duas entradas USB-C voltadas à fileira traseira.

10. Pacote ADAS

Os sistemas de condução semiautônoma do pacote Honda Sensing estão entre os melhores do mercado, incluindo marcas de luxo. O ACC (controle de cruzeiro adaptativo) e o assistente ativo de faixa (que começa a funcionar perto dos 70 km/h) operam de maneira suave, modulando acelerações e frenagens de maneira progressiva e mantendo o carro centralizado na faixa sem zigue-zagues.

11. Luzes de cortesia traseiras

Muito legal a dupla de luzes de cortesia em LED na fileira traseira do ZR-V. Para ligá-las, basta um leve toque com o dedo no próprio invólucro da lâmpada ou em sua moldura. Inclusive, é curioso constatar esse nível de comodidade para quem vai atrás, enquanto a iluminação de cortesia dianteira é convencional por interruptores.

Honda ZR-V Touring 2024 - Pontos negativos

1. Visual

Não que seja um problema. Afinal, gosto é que nem nariz: cada um tem o seu. Mas que o ZR-V traz um design menos charmoso e muito mais sóbrio que o de HR-V, Civic, Accord e até a família City e City Hatch, isso fica difícil negar. Destaque para as rodas aro 17, que, apesar de não serem tão grandes, não passam sensação visual de serem pequenas demais como as de 18 polegadas de um Fiat Fastback.

2. Motor

Lançar um carro de mais de R$ 200.000 em 2023 com um motor 2.0 aspirado a gasolina que sequer traz injeção direta de combustível parece um contrassenso. Difícil assimilar que um ZR-V é menos potente e anda menos do que um HR-V turbo. E sabe por que a Honda trouxe o modelo assim? Era o que tinha. Ele é produzido apenas com essa motorização no México.

3. Desempenho

Com esse motor de 161 cv de potência e 19,1 kgfm de torque, o ZR-V não chega a ser um carro manco. Mas falta punch. As acelerações são lineares e progressivas, mas não na intensidade que gostaríamos. O câmbio CVT amarra um pouco mais as arrancadas, como já se esperaria, mas pelo menos traz alguma elasticidade para uso na estrada.

Entre os modos de condução Eco (disponível em botão no console central) e Normal quase não há diferença de comportamento. Coloca-se no modo Sport (através da manopla de câmbio) e os giros sobem automaticamente quase 1.000 rpm. Opa, agora parece que vai! Você acelera e... Continua a mesma coisa, apenas com rotações mais elevadas.

4. Consumo de combustível

Os números do ZR-V no PBEV (Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular) do Inmetro, que você pode conferir na ficha técnica logo abaixo. são muito próximos aos de um Jeep Compass T270. E isso não é uma boa notícia. Em nosso teste, ficamos próximos a 12 km/l no computador de bordo, com muitos trechos de trânsito intenso.

5. Android Auto

Só a conexão com Apple CarPlay pode ocorrer sem fio. Para quem usa Android Auto, caso meu, o cabo se torna mandatório.

6. Ar-condicionado

É automático digital de duas zonas e têm os mesmos comandos do HR-V e do próprio Civic. Até aí, tudo lindo. Só que não há difusores traseiros! Quer dizer... Até há dois dutos de ventilação que saem de baixo dos dois bancos dianteiros, mas não resolvem quase de nada. Talvez seja o maior vacilo do projeto.

7. Vidros elétricos traseiros

Sim, um carro de R$ 215.000 conta apenas com vidros dianteiros dotados das funções um-toque e antiesmagamento. Os traseiros são elétricos, mas convencionais.

8. Porta-malas

O bagagito do ZR-V é incrível, mas o porta-malas em si é o menor do segmento: 389 litros no método VDA, contra 410 litros do Compass, 440 litros do Corolla Cross e 498 litros do Taos. E ele não totalmente forrado por dentro: as caixas de roda são revestidas com plástico rígido, mais suscetíveis a riscos.

9. Apoio de braço central traseiro

Indisponível no Honda ZR-V. Aquele tipo de economia de custo que fica difícil entender ou justificar.

10. Lane Watch

Ter uma câmera de auxílio a ponto cego só do lado direito já é um tanto estranho. Ainda mais se, ao darmos seta à direita, a imagem dela se sobrepõe à do mapa, justamente em um momento no qual provavelmente você está fazendo uma conversão e precisa ter certeza para onde vai.

Ficha técnica – Honda ZR-V Touring 2024 – Preço: R$ 214.500

Motor: 2.0, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, aspirado, gasolina, injeção multiponto, duplo comando de válvulas com variação em admissão (i-VTEC) e escape (VTC)
Taxa de compressão: 10,8:1
Potência: 161 cv a 4.200 rpm
Torque: 19,1 kgfm (G/E) a 3.600 rpm
Peso/potência: 8,98 kg/cv
Peso/torque: 75,7 kg/kgfm
Câmbio: automático CVT, sete marchas simuladas
Tração: dianteira
0 a 100 km/h: não divulgada
Velocidade máxima: não divulgada

Consumo Inmetro: 10,2 km/l na cidade; 12,1 km/l na estrada.

Dimensões e capacidades: 4.568 mm de comprimento, 2.655 mm de entre-eixos, 1.840 mm de largura, 1.611 mm de altura, 389 litros de porta-malas, 464 kg de carga útil, 53 litros de tanque de combustível, 1.446 kg de peso em ordem de marcha.

Dados técnicos: direção elétrica; suspensão McPherson (dianteira) e MultiLink (traseira); freios a discos ventilados (dianteira) e discos sólidos (traseira); diâmetro de giro, não divulgado; coeficiente aerodinâmico não divulgado; vão livre do solo, 17,8 cm; ângulo de ataque, 16,4°; ângulo de saída, 20,2°; ângulo de transposição de rampas não divulgado; pneus, 215/60 R17; estepe temporário 135/90 D17.

Honda ZR-V Touring 2024 – Itens de série

Sensores de estacionamento dianteiros e traseiros
Travas elétricas
Vidros dianteiros elétricos com função "um toque" com antiesmagamento
Vidros traseiros elétricos
Retrovisores externos com ajuste elétrico
Alavanca de seta com One-Touch
Volante multifuncional com ajuste de altura e profundidade
Banco do motorista com ajuste elétrico
Desligamento automático dos faróis programável
Jogo de tapetes com trava antiescorregamento
Espelhos no quebra sol com iluminação
Retrovisor interno fotocrômico
Ar-condicionado automático digital de duas zonas
Duas portas USB tipo C dianteiras
Duas portas USB tipo C traseiras
Porta USB tipo A dianteira
Chave com sensor presencial
Partida do motor por botão
Banco traseiro bipartido (60/40)
Volante e alavanca do câmbio revestidos em couro sintético
Acabamento do volante em preto brilhante
Bancos em couro sintético com faixas centrais microperfuradas
Bancos com Estabilizador Corporal
Sistema de som com 8 Alto-falantes
Central multimídia de 9" com Apple CarPlay (sem fio) e Android Auto (por cabo)
Volante multifuncional
Quadro de instrumentos parcialmente digital de 7"
Carregador de celular por indução
Modos de condução Eco e Sport
Sistema MyHonda Connect via aplicativo de celular
Teto Solar
Para-brisas acústico
Alarme
Frenagem autônoma de emergência (EBA)
Freio de estacionamento eletrônico Auto Hold
Controles de estabilidade e tração (VSA)
Assistente de partidas em Rampa (HSA)
Controle de velocidade em descida (HDC)
Oito airbags (frontais, laterais, de joelhos e de cortina)
Lembrete de afivelamento dos cintos dianteiros e traseiros
Sistema Isofix de fixação para cadeirinhas infantis
Câmera de ré com linhas dinâmicas
Alerta de pressão dos pneus (TPMS)
Lembrete de esquecimento de objetos no banco traseiro
Monitor de atenção do motorista
Honda LaneWatch - Câmera para redução de ponto cego
Controle de cruzeiro adaptativo (ACC) com ajuste de velocidade
Frenagem de mitigação de colisão (CMBS)
Assistente ativo de permanência em faixa (LKAS)
Farol alto automático (AHB)
Faróis full-LED com DRL (luzes de rodagem diurna), acendimento integrado e ajuste manual de altura do facho
Lanternas traseiras em LED
Antena tipo Tubarão
Limpador de para-brisa com função intermitente e lavadores integrados

Novo Honda ZR-V vale a pena?

O novo Honda ZR-V é um SUV para quem quer conforto, bom acabamento interno, espaço de sobra na cabine e isolamento acústico decente para rodar com suavidade. Não vai atrair quem faz questão de um desempenho instigante, mas tem um pacote equilibrado e preço ok para a realidade do segmento. Quer saber? A Honda dificilmente deve deixar de bater com ele sua meta mensal de vendas.