Como a gasolina com 35% de etanol pode prejudicar o motor do seu carro

Especialista afirma que combustível derivado da cana tem potencial corrosivo e pesar no bolso dos proprietários
Diego Dias
Por
15.09.2024 às 18:30
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Especialista afirma que combustível derivado da cana tem potencial corrosivo e pesar no bolso dos proprietários

O chamado projeto dos “combustíveis do futuro” foi recentemente aprovado no Senado, algo que ocorreu no início deste mês. Dentre os destaques, o que mais teve polêmica foi o aumento do etanol na gasolina, que poderia passar dos atuais 27,5% para até 35%, mistura essa em maior proporção que deixou muito motorista com receio.

Antes de saber se tal aumento do combustível derivado da cana-de-açúcar na gasolina pode prejudicar o motor do seu carro, vamos relembrar que a legislação atual permite que o percentual seja variável.

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Hoje é obrigatório que toda gasolina tenha no mínimo 18% de etanol em sua composição, podendo chegar no máximo a 27,5%, mas esse valor poderá variar entre 22% e 35% com o novo projeto de Lei PL 528/2020. Tal flexibilidade se dá por conta da disponibilidade de combustíveis, principalmente por conta da safra da cana.

Mais etanol na gasolina pode prejudicar o motor?

Para sanar qualquer dúvida, consultamos o Luiz Pedro Scopino, professor de mecânica e consultor técnico. O que é unanimidade é que tanto carro movido somente a gasolina quanto carro dotado de tecnologia flex, ou seja, que pode ser abastecido com etanol (álcool) ou gasolina em qualquer proporção, ficará “mais gastão”, pois ocorrerá o aumento do consumo de combustível.

“Mas o que mais me preocupa é que o aumento do álcool na gasolina vai afetar diretamente o funcionamento do motor. Com certeza, os motores vão ter um aumento de consumo de combustível”, explica Scopino.

Outra questão que pode ser preocupante para os motores dos carros é o desgaste de peças, algo que vai ter uma variação deste nível de desgaste dependendo a época de fabricação do carro.

“Bom, todo aumento do álcool combustível, que é um álcool que é corrosivo, querido ou não, vai afetar todas as peças que têm contato com ele. Se a proteção, na época do carro, é boa, pode aguentar. Mas dentro da normalidade, não”, diz o especialista.

O sistema de injeção eletrônica pode ser afetado?

Para quem está preocupado com a injeção eletrônica de seu carro, pode ficar tranquilo que o aumento do etanol para até 35% não vai prejudicar o sistema diretamente. A questão mais complicada mesmo são os componentes que vão lidar diretamente com a nova proporção do etanol na gasolina.

“O sistema em si, a parte eletrônica, não vai ter nenhum desgaste, mas com certeza vai aumentar as falhas prematuras no circuito de combustível. Bomba de combustível vai sofrer maior desgaste, bicos injetores vão sofrer maior desgaste e, acima de tudo, o filtro de combustível deverá ter a sua data ou quilometragem de troca antecipados, porque vai sujar mais esse filtro”, detalha.

Para os donos de carros mais antigos, principalmente do começo dos anos 2000 (modelos com um considerável volume na frota nacional), época em que a tecnologia flex foi inserida, poderá ficar um pouco mais despreocupado.

“Praticamente toda a injeção eletrônica, a partir desse período, vai conseguir identificar essa mistura diferente, porque vai entender que o carro está com uma mistura de gasolina e álcool. Não é o álcool na gasolina, é a mistura mesmo por ele ser flex. Ela vai identificar isso tranquilamente e vai adequar o funcionamento. Mas vão notar aumento de consumo de combustível e isso é real”, diz Scopino.

A questão do aumento do consumo de combustível era algo já é esperado para muitos, já que os carros quando abastecidos com etanol sempre têm um consumo consideravelmente menor em relação a gasolina, embora o combustível vegetal seja um pouco mais barato nos postos de combustíveis.

Pegando um dos carros mais vendidos no Brasil como exemplo, o Volkswagen Polo Track hoje tem consumo (urbano/rodoviário) de 9,4 km/l e 10,8 km/l com etanol, enquanto com gasolina esse número sobe para 13,7 km/l e 15,2 km/l, respectivamente, conforme o Inmetro. Com esse aumento de 27,5% para 35%, é esperado que o consumo piore razoavelmente quando com combustível derivado do petróleo no tanque.

Por fim, um dos pontos que mais devem gerar contestação é em carros mais antigos movidos a gasolina. Com pouco mais de um terço da mistura em etanol na gasolina, isso talvez possa resultar em problemas, principalmente porque esses veículos foram projetados em uma época em que a mistura do álcool na gasolina tinha percentual bem menor – sem contar que o etanol é mais corrosivo, como já bem explicou Scopino lá no ínicio. 

O Projeto de Lei

Vale lembrar que o tal Projeto de Lei dos combustíveis do futuro (PL 528/2020)passou em março pela Câmara dos Deputados. No início de setembro, ele foi aprovado pelo Senado, que fez uma alteração no texto, justamente na parte voltada para o aumento de até 35% de etanol na gasolina – no texto original era previsto no máximo 30%.

De autoria do ex-deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), a matéria foi aprovada pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), que é relator do projeto. Veneziano disse que a proposta vai “mitigar o aquecimento global, beneficiando toda a sociedade, em linha com os compromissos assumidos pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris”.

Com texto original alterado pelo Senado, o projeto que poderá aumentar o etanol para até 35% na gasolina agora volta para uma nova avaliação na Câmara dos Deputados.

Vale lembrar que, para entrar em vigor, o PL precisar ser votado e aprovado para só depois seguir para sanção presidencial. Somente depois de passar por todos esses processos, o aumento poderá entrar em vigor.

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