Ford Maverick 2023: o que ela ensina à Ram Rampage em teste de 1.500 km
Parecia um tanto nebulosa, em princípio, a estratégia da Stellantis com a Ram Rampage ou 291, futura picape “de entrada” da marca do carneiro no Brasil, com produção em Goiana (PE). Como assim, uma picape média monobloco com tração prioritariamente dianteira e derivada da Fiat Toro? Pois a resposta que dá sentido a essa receita pode estar na Ford Maverick.
A caminhonete nascida da costela do SUV Bronco Sport traz muito daquilo que se espera no produto da Ram que está prestes a ser lançado, desde as dimensões até a ainda pouco usual – para os padrões brasileiros – combinação de um motor turbo a gasolina com tração 4x4. Passando, é claro, pela faixa de preços próxima a R$ 250.000.
A Mobiauto rodou mais de 1.500 km (1.531,4 km, para ser mais preciso) com a Maverick 2023 na versão Lariat FX4 2.0 EcoBoost a gasolina, anterior à vindoura opção híbrida que está para chegar com motor 2.5 aspirado, e conta tudo que ela tem a ensinar (de bom ou ruim) à sua futura rival.
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Para entender mais sobre elementos como visual e acabamento, confira esta outra avaliação feita há cerca de um ano, na época de seu lançamento. Neste outro artigo, veja 20 detalhes curiosos e interessantes sobre a Maverick. Aqui, focaremos em seu comportamento na prática, após muita rodagem em cidade e estrada.
Ford Maverick Lariat FX4 2.0 EcoBoost 2023: R$ 244.890
9 boas lições da Ford Maverick 2023 para a Ram Rampage
1) Desempenho: o motor 2.0 EcoBoost de 253 cv de potência e 38 kgfm de torque faz a Ford Maverick andar muito, mesmo pesando mais de 1,7 tonelada. Além do torque abundante logo a rotações mais baixas, há muita elasticidade para efetuar ultrapassagens com segurança em rodovias. A Rampage, lembremos, terá um propulsor similar, de cerca de 260 cv e mais de 40 kgfm, também a gasolina. Só que deve ser ainda mais pesada.
2) Isolamento acústico: o mais surpreendente da Maverick, porém, é que quase não se escuta ruídos externos à cabine, seja do motor, de rolamento das rodas, do vento ou de outros veículos. Talvez seja este o seu principal diferencial.
3) Conforto: a combinação do silêncio a bordo com bancos dianteiros bem desenvolvidos e suspensões muito bem calibradas, tanto na contenção de inclinações (laterais ou longitudinais) quanto na absorção de impactos, faz com que a Ford Maverick também seja a grande referência do segmento de picapes intermediárias neste ponto.
Há, ainda, frugalidades como bancos revestidos em couro caramelo, banco do motorista com ajustes elétricos, chave presencial, partida do motor por botão e até um pequeno vidro traseiro de acesso à caçamba com abertura e fechamento elétricos via painel.
4) Dinâmica: você já deve ter lido em N avaliações de picape o famoso clichê de que aquele modelo tem comportamento de um automóvel com caçamba. Entre todas as picapes que já testei, a Maverick é a que mais se aproxima de fato desse aforismo.
5) Dirigibilidade: respostas diretas e precisas da direção elétrica, que possui calibragem progressiva de fato, ficando um bocado mais rígida a velocidades mais altas. Inclinações bem comedidas, tanto laterais (nos contornos de curva) quanto longitudinais (em frenagens e acelerações). Tudo isso faz a Maverick ter uma dirigibilidade exemplar e muito segura especialmente em rodovias.
6) Espaço interno no banco traseiro: por ser a picape intermediária mais comprida e com maior entre-eixos do mercado (por enquanto), a Ford Maverick proporciona um vão para pernas muito interessante na fileira traseira. A exceção, claro, está na posição do meio, atrapalhada por um túnel central deveras elevado, a fim de abrir espaço para o cardã. Caso não vá levar ninguém atrás, você pode rebater o assento e criar um espaço para bagagens que não podem trafegar na caçamba.
7) Porta-trecos generosos no console: a divisão de espaço no console central da Ford Maverick é muito bem acertada. Há nichos para depositar a carteira e o celular deitado ou em pé. Este último se mostra útil especialmente quando o cabo está conectado para projeção na central multimídia. E acredite: você vai precisar do fio, pois não há espelhamento sem fio. Pelo menos já há tomadas USB tanto do tipo A quanto C nas duas fileiras.
8) Tração integral: o câmbio automático de oito marchas da ZF é esperto como já se esperava. Além disso, a tração integral sob demanda, apesar de mais simples que a do Bronco Sport, funciona muitíssimo bem. Sua operação é prioritariamente dianteira, mas há envio automático de até 50% do torque ao eixo traseiro em caso de necessidade. E são cinco os modos de condução off-road.
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9) Segurança: faltam itens de segurança ativa (falaremos mais sobre isso em instantes), mas a Ford Maverick é um veículo de construção sólida, além de contar com sete airbags, frenagem autônoma emergencial, com detecção de pedestres e ciclistas, e frenagem automática pós-colisão, a fim de dirimir o efeito rebote de uma batida.
9 más lições da Ford Maverick 2023 para a Ram Rampage
1) Consumo: motor de maior capacidade cúbica, muito desempenho, peso elevado, porte robusto, aerodinâmica limitada pelas dimensões e tipo de carroceria. É o combo perfeito para um produto que bebe muito combustível. Em nosso teste, sempre com ar-condicionado ligado, sequer chegamos a 10 km/l. E olha que boa parte do uso foi em rodovias de pista dupla e poucas curvas fechadas, o ambiente mais eficiente possível fora uma pista de testes com reta infinita. Os números exatos estão na ficha técnica logo abaixo.
2) Tecnologias embarcadas: para uma picape de quase R$ 250.000, faltam muitos equipamentos à Ford Maverick. A projeção de celulares via Android Auto e Apple CarPlay ainda é via cabo e não há carregador por indução. E ela não dispõe de ACC (controle de cruzeiro adaptativo), um aliado cada vez mais demandado em viagens longas por estradas bem sinalizadas, nem de regulagem elétrica para o banco dianteiro do passageiro.
3) Acabamento: precisamos dizer que ele é muito correto e bem montado, acima da média da categoria, além de criativo (mas com bom gosto). Porém, demasiadamente simples, com muito uso de plástico rígido. De novo: estamos falando de um veículo que se aproxima de R$ 250.000, por isso o padrão incomoda.
4) Ângulos e vão livre do solo: são baixos para um produto com proposta de encarar trilhas off-roads. Tentar nunca raspar o defletor aerodinâmico localizado sob o para-choque dianteiro em uma valeta qualquer é tarefa hercúlea.
5) Retrovisores externos: são divididos em dois espelhos cada, sendo sempre o principal com imagem em zoom, o que compromete a noção de profundidade e distância em relação a outros veículos, e outro menor, convexo, que teoricamente aumenta o campo de visão e reduz o ponto cego, mas na prática é pequeno demais para isso.
6) Caçamba sem capota marítima ou abertura amortecida: se Fiat Toro, Chevrolet Montana e Renault Oroch, produtos mais baratos e simples, dispõem de capota marítima e, no caso da Montana, até abertura amortecida da tampa da caçamba, por que a importada e mais sofisticada Ford Maverick não poderia? Tais itens existem, mas só como acessórios. Convenhamos: uma capota é muito mais útil e bem recebida pelo usuário de uma picape do que um abridor de garrafas...
7) Quadro de instrumentos: é analógico com computador de bordo digital colorido de 6,5 polegadas. Até aí tudo bem: iluminação adequada, gráficos de boa resolução e sistema completo em informações, além de fácil de mexer via volante multifuncional. O ponto de incômodo: há um limite de telas que podem ser revezadas. E aí é preciso ficar escolhendo quais informações são mais necessárias para cada momento.
8) Porta-garrafas nem tão grande assim: os porta-objetos do console central são ótimos, mas os porta-garrafas laterais, que levaram a Ford a fazer puxadores de porta vazados para que fossem os mais generosos possíveis, não comportou uma garrafa de água em aço inox de 1,5 litro. Ela teve que ir no porta-luvas. E eu jurava que daria certo.
9) Sensores de estacionamento: não, a Ford Maverick não os possui nem mesmo traseiros. Ok, há câmera de ré para facilitar um pouco a vida, mas uma picape de mais de 5 metros de comprimento e com um balanço traseiro generoso bem que podia ajudar mais nas manobras – que já não são fáceis, tanto que seu diâmetro de giro sequer é divulgado.
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Ford Maverick Lariat FX4 2.0 EcoBoost 2023 – Ficha técnica
Motor: 2.0, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 16V, turbo, gasolina, duplo comando variável de válvulas, injeção direta de combustível, taxa de compressão 9,3:1
Potência (estimada): 253 cv a 5.500 rpm
Torque (estimado): 38 kgfm de 3.000 rpm
Peso/potência: 6,89 kg/cv
Peso/torque: 45 kg/kgfm
Câmbio: automático, 8 marchas
Tração: integral
0 a 100 km/h: 7,2 segundos
Velocidade máxima: 175 km/h (limitado eletronicamente)
Consumo Inmetro: 8,8 km/litro na cidade e 11,1 km/litro na estrada com gasolina
Consumo Mobiauto: 9,86 km/l em circuito 80% rodoviário e 20% urbano
Dimensões: 5.073 mm de comprimento, 3.076 mm de entre-eixos, 1.844 mm de largura, 1.733 mm de altura, 943 litros de porta-malas, 67 litros de tanque de combustível, 1.744 kg de peso
Dados técnicos: direção elétrica progressiva; suspensões McPherson (dianteira) e MultiLink (traseira) com braços de alumínio; freios a discos ventilados (dianteiros) e a discos sólidos (traseiros); diâmetro de giro não divulgado; Cx não divulgado; vão livre do solo, 218 mm; ângulo de ataque, 21,6°; ângulo central, 18,1°; ângulo de saída, 21,2°; capacidade de carga, 680 kg; pneus 225/65 R17; 62 litros do tanque de combustível.
Ford Maverick Lariat FX4 2.0 EcoBoost 2023 – Itens de série
- Alarme
- Chave com sensor presencial e abertura por código
- Sete airbags (frontais, laterais, de cortina e de joelhos para o motorista)
- Controle eletrônico de estabilidade e tração
- Controle automático de velocidade em descida
- Assistente de partida em rampas
- Freio de estacionamento eletrônico com auto hold
- Frenagem autônoma emergencial com detecção de pedestre/ciclista, alerta anticolisão frontal e freio automático pós-impacto
- Cinco modos de condução selecionáveis: Normal, Escorregadio, Lama/Terra, Areia e Reboque/Transporte
- Controle de cruzeiro
- Start/Stop
- Faróis de LED automáticos com luz alta automático e luz de condução diurna
- Rodas de liga leve de 17"
- Estepe full-size
- Travas elétricas das portas e da caçamba
- Retrovisores elétricos com repetidor de seta
- Pré-instalação de engate para reboque com conector de quatro pinos e chicote
- Caçamba com protetor, dois compartimentos de carga, ganchos e abridor de garrafas
- Ar-condicionado automático digital de duas zonas
- Volante multifuncional revestido em couro com ajuste de altura e profundidade
- Bancos com revestimento em couro sintético
- Banco do motorista com ajuste elétrico em oito posições
- Banco do passageiro dianteiro com ajuste manual em seis posições
- Bagageiro sob o banco traseiro
- Câmera de ré
- Vidros elétricos com um-toque e antiesmagamento
- Vidro elétrico da caçamba
- Quadro de instrumentos analógico com tela digital central de 6,5"
- Console central com porta-objetos e descansa-braço
- Tomada de 12 V na traseira
- Central multimídia Sync 2.5 de 8" com Android Auto e Apple CarPlay (via cabo)
- Duas entradas USB-A e duas USB-C (duas dianteiras, duas traseiras)
- Sistema Ford Pass, com status remoto do veículo pelo celular (nível do combustível, odômetro), travamento e destravamento remoto, partida remota com acionamento do ar-condicionado, partida remota agendada, localização do veículo, alerta de acionamento do alarme e de funcionamento do veículo
- Monitoramento de pressão dos pneus
Ford Maverick 2023 vale a pena?
Sim. Pelo desempenho, conforto, dirigibilidade, dinâmica e segurança. São os melhores do segmento, com alguma margem. Será difícil para a Ram Rampage igualar a concorrente nesses quesitos. O consumo fala contra, mas já se esperaria isso de um veículo com esse perfil. E se o acabamento é limitado, todo o mercado de picapes falha junto nessa mesma seara.
O que faltou foi mais carinho por parte da Ford ao escolher os equipamentos embarcados para um produto com o valor da Maverick Lariat FX4 2.0 EcoBoost. Agora, se você não liga tanto para tecnologia e gosta de uma picape que dá prazer ao dirigir, a Ford Maverick é a escolha certeira.
Jornalista Automotivo