Por que velhos motores aspirados estão mais econômicos que os turbo?
Com Camila Torres
Os debates em grupos de Facebook e WhatsApp parecem sem fim quando o assunto é “qual o motor é mais econômico: turbo ou aspirado?”. O Inmetro muitas vezes aponta os propulsores turbinados com menor capacidade cúbica como os mais eficientes, mas alguns donos dizem o contrário.
A explicação para os dados conflitantes pode estar no estilo de condução. A indústria automotiva deu o nome de downsizing para os novos motores que têm um deslocamento menor, mas tecnologias que os deixam mais potentes até que motores de capacidade cúbica bem maior. Um desses é o famoso motor 1.0 turbo.
Eles chegaram prometendo duas coisas que mexem com o coração de qualquer consumidor: mais desempenho e economia de combustível.
Mas os proprietários têm colocado isso em xeque depois de experimentarem os motores turbinados de fábrica. Não é difícil ver alguns afirmando que seu antigo carro com uma usina aspirada 1.5 ou 1.6 era mais eficiente. E isso foge à teoria.
Investigamos o caso e, de fato, esses motoristas podem estar certos! Tudo depende da forma como dirigem o veículo. Pegamos dois modelos como exemplo nesta matéria: Fiat Pulse e Hyundai Creta.
O primeiro traz um motor 1.3 quatro-cilindros 8V aspirado nas versões mais baratas e um 1.0 três-cilindros turbo 12V nas de topo, ambos flex. O segundo é ainda mais radical: contrasta um 1.0 turbo 12V com um 2.0 aspirado 16V.
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Para esclarecer o que conta a favor de cada tipo de propulsor, conversamos com Erwin Franiek, engenheiro mecânico da AEA (Associação Brasileira Engenharia Automotiva). A resposta é mais intrigante e, ao mesmo tempo, lógica do que você imagina. Entenda:
Quando um motor aspirado gasta menos que um turbo
Depende. O engenheiro esclarece que o motor turbo tem potencial para ser mais econômico que o motor aspirado. Afinal, ele é menor e tem torque constante em rotações baixas. Mas o estilo de condução é um dos fatores determinantes para o turbo ser mais econômico ou mais gastão:
“Um motor turbo já entrega seu torque total em 1.500 rpm e, depois, se mantém constante, enquanto o aspirado só atingirá o pico mais à frente, geralmente entre 3.500 e 4.500 rotações”, explica o especialista.
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“Se o motorista dirigir tanto um carro turbinado quanto um aspirado de forma mais nervosa, o turbo terá um desempenho melhor. Mas será menos econômico que o aspirado”, exemplifica.
O engenheiro segue: “O motor turbo tem uma variação [de consumo] muito maior que o aspirado. Com base em testes que já realizei, comparando uma direção mais agressiva com uma mais mansa, o motor turbo pode ser até 50% mais econômico, quanto o aspirado tem uma variação de até 30%.”, afirma o engenheiro.
Quando mencionamos os dados de potência e torque de um motor, estamos nos referindo aos números máximos dele, não necessariamente do que está disponível em cada faixa de rotação.
Como o torque do motor turbo já é total a rotações mais baixas, sua potência também cresce de maneira mais acelerada a giros mais baixos. Por isso, uma usina turbinada tende a alcançar picos de potência mais altos do que um aspirado, segundo o especialista.
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“O motor turbo é mais potente que o aspirado em quase todas as faixas de rotação. Eles vão ficar parecidos só em uma rotação alta. Por isso [o turbo] pode gastar mais, pois ele tem uma potência maior. Essa é a diferença. Sempre que for requisitado, o turbo entregará mais potência em baixas rotações” discorreu Freniek.
“Ele [turbo] vai consumir mais [combustível] para isso. Mas, usando como referência o quilowatt gerado, a eficiência [térmica] do motor turbo ainda é maior. Ele gera mais energia [que um motor aspirado] e uma coisa compensa a outra. Portanto, por energia entregue, o turbo gasta menos”, concluiu.
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Creta e Pulse: dois casos de aspirado vs turbo
Vamos partir do princípio de que estamos falando de dois motores, um aspirado e um turbo, e que, apesar de terem uma diferença de deslocamento, ambos têm uma potência muito parecida. O novo Hyundai Creta é um bom exemplo, já que tem versões com o motor 1.0 turbo e com o motor 1.6 aspirado. Observe os dados técnicos abaixo:
Hyundai Creta Action 1.6 AT
Consumo: 7,1 km/litro na cidade e 8,2 km/litro na estrada com etanol / 10,1 km/litro na cidade e 11,3 km/litro na estrada com gasolina
Desempenho: 130/123 cv (E/G) a 6.000 rpm e 16,5/16 kgfm de torque (E/G) a 4.500 rpm / 0 a 100 km/h em 12 segundos / Velocidade máxima: 172 km/h
Novo Hyundai Creta 1.0 TGDi AT
Consumo: 8,3 km/litro na cidade e 8,7 km/litro na estrada com etanol / 11,6 km/litro na cidade e 12 km/litro na estrada com gasolina
Desempenho: 120 cv (E/G) a 6.000 rpm e 17,5 kgfm de torque (E/G) a 1.500 rpm / 0 a 100 km/h em 11,5 segundos / Velocidade máxima: 180 km/h
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A configuração 1.0 turbo tem mais torque e uma diferença de apenas 3 cv para o aspirado se abastecido com gasolina. Mesmo assim, o motor turbinado deixou o Hyundai Creta levemente mais ligeiro que com o propulsor aspirado.
Assim, se o motorista rodar com cautela, o SUV turbinado será mais econômico, segundo os dados do Inmetro. No dia a dia, caso o condutor fique instigado a pisar sem dó no acelerador, aí o 1.6 pode se mostrar mais econômico.
Para ajudar a acompanhar o raciocínio, vamos analisar o Fiat Pulse. Tanto o SUV da Hyundai como o da Fiat entregam o torque total a menos de 2.000 rpm com o motor turbo. Já com o aspirado, nos dois casos, o pico é atingido em 4.000 rpm ou mais.
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No caso do Pulse, porém, a configuração Turbo 200 é significativamente mais potente que a 1.3: são 23 cv a mais e quase 7 kgfm a mais de torque. Seguindo a lógica do especialista, a potência extra o deixará menos econômico em relação ao 1.3 aspirado.
Porém, se você observar os números, perceberá que a autonomia dos dois motores ainda assim está muito próxima e que o motor turbinado chega até a ser mais econômico na estrada com gasolina.
Afinal, é quando ele consegue entregar potência para manter o veículo a velocidades mais altas sem subir tanto os giros. Na conta, entra ainda o fato de estar usando gasolina, um combustível de maior poder calorífico do que o etanol.
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Como, porém, a maioria das pessoas utiliza o carro na cidade, quem não tem dó de pisar no acelerador a cada aceleração e retomada vai gastar mais combustível dirigindo o Pulse 1.0 turbo do que o Pulse 1.3 aspirado, mesmo que ambos utilizem a mesma caixa CVT dotada da mesma relação das sete marchas simuladas.
Fiat Pulse 1.3 Aspirado CVT
Consumo: 9,2 km/litro na cidade e 10,4 km/litro na estrada com etanol / 12,9 km/litro na cidade e 14,3 km/litro na estrada com gasolina
Desempenho: 107/98 cv (E/G) a 6.250 rpm e 13,7/13,2 kgfm de torque a 4.000 rpm / 0 a 100 km/h em 11,4 segundos / Velocidade máxima: 177 km/h
Fiat Pulse 1.0 Turbo CVT
Consumo: 8,5 km/litro na cidade e 10,2 km/litro na estrada com etanol / 12 km/litro na cidade e 14,6 km/litro na estrada com gasolina
Desempenho: 130/125 cv (E/G) a 5.750 rpm e 20,4 kgfm de torque (E/G) a 1.700 rpm/ 0 a 100 km/h em 9,4 segundos / Velocidade máxima: 189 km/litro
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Turbo vs aspirado, qual motor é mais econômico?
“Se você pegar o mesmo carro e entregar um para uma pessoa que dirige tranquilamente, sem grandes variações de aceleração em frenagem, e entregar o outro para uma pessoa que faz totalmente o contrário, freia em cima do outro carro no farol, estica muito a marcha, acelera demais na saída, a variação de consumo entre um e outro será significativa”, explica Erwin Franiek, da AEA.
Sendo assim, a resposta para a pergunta se o motor turbo é mais econômico que o aspirado é: “Em uma direção tranquila, com o pé leve, o motor turbo será o mais econômico, considerando motores de gerações próximas e com desempenho similar. Já em uma direção agressiva, a vantagem é do motor aspirado”, finaliza o engenheiro.
Dessa forma, um fator totalmente determinante para saber qual o motor mais econômico é o seu estilo de condução.
Imagens: Renan Bandeira/Mobiauto
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Jornalista Automotivo