Avaliação: Ford Maverick tem porte de Toro e preço de Ranger. Dá certo?
A picape compacta-média Ford Maverick estreia no Brasil importada do México em versão única, a Lariat, por R$ 239.990. Sim, o icônico cupê dos anos 1970 virou uma picape. Ela custa cerca de R$ 30.000 a mais que a versão topo de linha da Fiat Toro a diesel, ocupando a mesma faixa da prima Ranger cabine dupla básica com motor 3.2.
As dimensões são um pouco maiores que as da Toro e o motor, mais potente que o da própria Ranger. Porém, no off-road ela é menos valente que uma Toyota Hilux e, inclusive, do que o irmão Bronco Sport, de quem herda a plataforma C2. Tudo porque seu sistema 4x4 é substancialmente simplificado.
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Em alguns pontos, a Maverick é tão tecnológica quanto um SUV da Jeep, mas em outros deixa de oferecer itens já considerados frugais para seu posicionamento de mercado. Afinal, com essas características, quem a Ford Maverick quer conquistar?
Apesar do motor esperto e da tração integral, a Ford Maverick não faz o tipo picape raíz. Já suas proporções e até o espaço interno se aproximam muito de um SUV médio, com exceção do comprimento - pela razão óbvia de haver uma caçamba lá atrás.
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Que cliente a Ford Maverick quer conquistar?
Nos últimos anos, o interesse pela categoria de picapes aumentou expressivamente, refletindo-se nitidamente nas vendas. Consumidores dos segmentos de SUVs, sedans e até hatches migraram para esses comerciais leves com caçamba.
Tanto que esses veículos estão ficando cada vez mais amigáveis para uso urbano, adotando chassis monoblocos e privilegiando o espaço e o conforto dentro da cabine em detrimento do volume da caçamba ou da valentia para carregar carga.
A própria Fiat Toro tem um papel importante na democratização das picapes, pois foi através delas que muitos clientes desbravaram o segmento.
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A Ford acredita saber muito bem o que quer com a Maverick, e não é público nem da Toro, nem do segmento de picapes médias, onde atua a prima Ranger. A Maverick quer conquistar consumidores que estão migrando dos SUVs para picapes, mas subestimam a Toro e não querem partir direto para uma picape média.
Durante a apresentação, a Ford chamou atenção várias vezes para apontar semelhanças entre a Maverick e um SUV, em termos de proporções, dirigibilidade e conforto. Ela parece cara para seu posicionamento, mas cobra praticamente o mesmo que um Jeep Compass Trailhawk TD350 4x4 AT9 2022.
A estratégia da Ford parece perspicaz, mas será que vai dar certo? Passamos um final de semana com a Maverick antes de seu lançamento, nesta quinta-feira (15), para responder essa pergunta ao longo dessa avaliação.
Design e espaço
De cara, a Ford Maverick causa uma boa impressão. O visual, no geral, é tradicional: linhas quadradas, poucas curvas, frente robusta, grade dianteira grandalhona, faróis de LED geométricos, para-choque retangular e bicudo.
Julgando o livro pela capa, parece de fato uma picape que encara boas aventuras. A Maverick pega emprestado do irmão SUV Bronco Sport desde a plataforma C2 até a carroceria monobloco, do balanço dianteiro à coluna, embora tenha uma um visual próprio.
A traseira é bem parecida com a proposta da Ford Ranger, talvez um pouco mais quadrada. As lanternas são apenas funcionais, pois esteticamente não chamam nenhuma atenção. Para trazer alguns toques esportivos, a Ford inseriu adesivos FX4 nas laterais, que indicam a configuração com tração nas quatro rodas.
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A caçamba conta com protetor, dois compartimentos de carga acima das rodas nas laterais, ganchos de fixação e abridor de garrafas. Mas a capota marítima, item básico no mercado e mais importante do que todos aqueles, é opcional. Há ainda pré-instalação de engate para reboque com conector de quatro pinos e chicote.
Por dentro, a Ford Maverick é menos sofisticada do que gostaríamos. Um visual bem mais modesto que o do Bronco Sport. No entanto, o acabamento dos bancos em couro na cor marrom e os detalhes acobreados nas maçanetas e em alguns detalhes do painel tiram o foco do excesso de plástico duro espalhado por todo o habitáculo.
O centro do painel parece antigo demais para uma picape que acaba de ser lançada. Nem se compara ao do Bronco Sport, com central flutuante. Aqui a central multimídia de 8” polegadas é grosseiramente encaixada em uma peça de plástico. É compatível com Apple CarPlay e Android Auto, mas só via cabo.
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Nas laterais das portas, no porta-luvas e no console central, há bons nichos dedicados a objetos, assim como a Maverick oferece um bom espaço para cinco passageiros. Os centímetros a mais em relação à Fiat Toro são de grande serventia em uma viagem com o veículo cheio.
Embora a Maverick seja visivelmente mais baixa, isso não comprometeu o espaço para a cabeça, pois nem mesmo os passageiros mais altos terão do que reclamar. Abaixo, colocamos as dimensões da picape da Ford, da Fiat Toro e da Ranger para fins de comparação.
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Dimensões Ford Maverick: 5.073 mm de comprimento, 3.076 mm de entre-eixos, 1.844 mm de largura, 1.733 mm de altura, 943 litros de porta-malas, 67 litros de tanque de combustível, 1.744 kg de peso
Dimensões Fiat Toro: 4.945 mm comprimento, 2.990 mm entre-eixos, 1.845 mm largura, 1.739 mm altura, 937 litros de caçamba, 55 litros do tanque de combustível, 1.705 kg de peso.
Dimensões Toyota Hilux: 5.325 mm de comprimento, 3.085 mm de entre-eixos, 1.855 mm de largura, 1.815 mm de altura, 1.000 litros de caçamba, 80 litros do tanque de combustível, 2.090 kg de peso.
Desempenho
A Ford Maverick tem boas sacadas e algumas mancadas. O desempenho está na primeira lista. O motor 2.0 EcoBoost TGDi (turbo a gasolina com injeção direta de combustível) entrege excelentes 253 cv de potência 38,7 kgfm de torque.
Para levar o velocímetro de 0 a 100 km/h, o condutor precisa apenas não ter medo de pisar no acelerador e esperar 7,2 segundos. Um tempo respeitável, principalmente para uma picape.
Apesar dos 1.744 kg em ordem de marcha, a relação peso/potência é incrível: menos de 6,9 kg/cv, sendo 45 kg/kgfm de torque. Na estrada, a Ford Maverick faz muitos SUVs comerem poeira sem perder o fôlego, tendo inclusive maior potência e torque que o irmão Bronco Sport.
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Nas ultrapassagens, ela passa a segurança necessária e, nas curvas, proporciona um nível de estabilidade maior que nenhuma picape média consegue replicar, graças às suas medidas mais baixas e ao chassi tipo monobloco. De fato, a dirigibilidade é muito próxima à de um SUV. Pontos para a direção elétrica assistida também.
O isolamento acústico é outro elemento ótimo. Mal se ouve o motor, e há até quem sinta falta disso. A esses últimos, aconselho recorrer ao “clac, clac” de uma picape a diesel. Já os que preferem a sensação de estar em uma picape que parece feita para estrada, sugiro continuarem lendo essa avaliação.
Na cidade, o porte parecido com o da Toro é favorável para estacionar nas vagas de shopping e de condomínio. Nas ruas e avenidas, dá gosto de dirigir. Ela absorve muito bem os impactos e, nas subidas mais íngremes, os 38,7 kgfm de torque dão conta do recado sem a menor dificuldade.
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Não tivemos a oportunidade de testá-la na terra, mas já sabemos que ela encara desde trilha leves a médias. Mas atenção: sua tração 4x4 não é tão sofisticada quanto a do Bronco Sport, que possui sete modos de condução inteligentes e bloqueio de diferencial.
Na Maverick, a suspensão traseira é simplificada e o diferencial, idem, gerando cinco modos de condução: Normal, Escorregadio, Lama/Terra, Areia e Reboque. Em relação ao SUV da mesma marca, ela perde os modos Sport, Eco e Pedra, mas ganha o modo Reboque. Ainda assim, em trilhas mais pesadas, melhor deixar para Hilux ou um jipe.
No geral, a Ford Maverick é o tipo de picape versátil, que se adapta à vida cotidiana da cidade com aventuras dos finais de semana, mantendo um conforto de um SUV, mas com o porte de uma picape. Ah, e com freios a disco nas rodas traseiras e freio de estacionamento eletrônico, que a Toro não tem.
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Motor: 2.0, dianteiro, transversal, quatro cilindros, 16V, turbo, gasolina, duplo comando variável de válvulas, injeção direta de combustível
Taxa de compressão: 10:1
Potência: 253 cv a 5.500 rpm
Torque: 38,7 kgfm a 3.000 rpm
Peso/potência: 6,89 kg/cv
Peso/torque: 45 kg/kgfm
Câmbio: automático, 8 marchas
Tração: integral
0 a 100 km/h: 7,2 segundos
Velocidade máxima: 175 km/h (limitado eletronicamente)
Consumo: 8,8 km/litro na cidade e 11,1 km/litro na estrada com gasolina
Dados técnicos: Direção: elétrica progressiva / Suspensão dianteira: independente Mcpherson com molas helicoidais e barra estabilizadora / Suspensão traseira: Independente Multilink com molas helicoidais e barra estabilizadora / Freios: dianteiros a disco ventilados; traseiros a disco sólidos / Peso em ordem de marcha: 1.744 kg / Carga útil: 617 kg / Vão livre do solo: 218 mm / Ângulo de ataque, 20,6º / Ângulo de saída, 21,2º / Ângulo de transposição, 18,1º / Capacidade de imersão, 450 mm / Pneus 225/65 R17 All Terrain
Segurança e tecnologia
A Ford Maverick tem itens de série interessantes, como abertura e travamento das portas por digitação de uma senha na coluna B (nada que donos do extinto Fusion não conheçam), o banco traseiro com um interessante porta-objetos sob o assento rebatível e a possibilidade de abertura de uma parte do vidro traseiro.
Por outro lado, deve muito à Toro em termos tecnológicos, muito mesmo. Além da capota marítima, a picape não conta com sensores de estacionamento dianteiros ou traseiros. E se há frenagem autônoma emergencial, a picape ficou devendo assistente de evasão de faixa, alerta de ponto cego e até um controle de cruzeiro adaptativo.
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Até sua central multimídia, Sync 2,5, é de uma geração anterior não só em relação à do Bronco Sport, mas também à do extinto EcoSport, que saiu de linha no Brasil no começo do ano passado. Confira a lista completa abaixo.
Ford Maverick Lariat FX4 2022 - Principais itens de série
- Alarme
- Chave com sensor presencial e abertura por código
- Sete airbags (frontais, laterais, de cortina e de joelhos para o motorista)
- Controle eletrônico de estabilidade e tração
- Controle automático de velocidade em descida
- Assistente de partida em rampas
- Freio de estacionamento eletrônico com auto hold
- Frenagem autônoma emergencial com detecção de pedestre/ciclista, alerta anticolisão frontal e freio automático pós-impacto
- Cinco modos de condução selecionáveis: Normal, Escorregadio, Lama/Terra, Areia e Reboque/Transporte
- Controle de cruzeiro
- Start/Stop
- Faróis de LED automáticos com luz alta automátic e luz de condução diurna
- Rodas de liga leve de 17"
- Estepe full-size
- Travas elétricas das portas e da caçamba
- Retrovisores elétricos com repetidor de seta
- Pré-instalação de engate para reboque com conector de quatro pinos e chicote
- Caçamba com protetor, dois compartimentos de carga, ganchos e abridor de garrafas
- Ar-condicionado automático digital de duas zonas
- Volante multifuncional revestido em couro com ajuste de altura e profundidade
- Bancos com revestimento em couro sintético
- Banco do motorista com ajuste elétrico em oito posições
- Banco do passageiro dianteiro com ajuste manual em seis posições
- Bagageiro sob o banco traseiro
- Câmera de ré
- Vidros elétricos com um-toque e antiesmagamento
- Vidro elétrico da caçamba
- Quadro de instrumentos analógico com tela colorida central de 6,5"
- Console central com porta-objetos e descansa-braço
- Tomada de 12 V na traseira
- Central multimídia Sync 2.5 de 8" com Android Auto e Apple CarPlay (cabo)
- Duas entradas USB-A e duas USB-C (duas dianteiras, duas traseiras)
- Sistema Ford Pass, com status remoto do veículo pelo celular (nível do combustível, odômetro), travamento e destravamento remoto, partida remota com acionamento do ar-condicionado, partida remota agendada, localização do veículo, alerta de acionamento do alarme e de funcionamento do veículo
- Monitoramento de pressão dos pneus
Vale a pena comprar uma Maverick por R$ 239.990?
Como acabamos de citar, a Ford Maverick deve itens de série que já são oferecidos em modelos bem mais baratos do que ela. Isso pesa muito contra a decisão de compra, além do interior demasiadamente simples para sua faixa de preço.
A Ford terá de conquistar os consumidores em outros quesitos, como o desempenho. O consumidor precisará refletir se, por R$ 240.000, quer abrir mão de tecnologia para ter uma picape que anda mais forte do que muitos SUVs.
Imagens: Murilo Góes /Mobiauto e Camila Torres / Mobiauto
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A faculdade me fez jornalista, a vida me fez aficionada por carros esportivos e adrenalina. Unindo paixão e profissão, realizo a missão de conectar pessoas com o universo automotivo, mas confesso que já tentei pilotar um kart e não deu muito certo.